O geólogo Peter Cezar do Nascimento e a reportagem da revista In The Mine se encontraram, dia 23 de outubro de 2006, em Brumadinho (MG). Nada estava agendado e nem sequer o trabalho de campo era o mesmo. Também não foi o acaso porque ele, Peter, que é um tanto místico, não acredita nisso. “É importante na pesquisa geológica, mas, na verdade, não existe. Sabemos que existem mãos divinas por ali”.
Naquele encontro, recém-formado e trabalhando para a empresa Mineral do Brasil, estava a caráter: martelo, mapa, bússola, GPS e a vestimenta típica de um mateiro, um desbravador. O editor Wilson Bigarelli e o fotógrafo Gildo Mendes encontraram ali as imagens que, por si, justificariam a viagem. Mas havia mais. Peter, como bom geólogo, e hoje ainda mais, tem sempre muitas histórias para contar. “Já passei fome com dinheiro no bolso, fiquei hospedado em pousadas horríveis, tomei chuva no lombo. Já até achei que nunca mais veria a civilização”.
Tem também a exata dimensão da tarefa a que se propõe. “O geólogo é como um detetive, à procura de vestígios e respostas para eventos hipotéticos, empenhado em montar um quebra-cabeças, mas nunca poderá prescindir do trabalho de equipe. “Não há espaço para o superman de martelinho na mão. Um caso típico: muitas vezes o cara da sondagem te passa todos os perfis, mas nem todos os profissionais envolvidos te fazem perguntas”.
Ele diz também que “tudo pode ser improvisado, exceto lápis e papel”. “Já perdi bússola em campo e consegui mapear com a bússola do GPS. Também já tirei medida de caimento de rocha com uma régua e quebrei uma pedra com outra pedra. Mas sem uma caderneta e um lápis no ‘meio do mato’, você pode voltar para casa”.
O tal do martelinho daquela época ainda existe. “Ele está com o bico menor, mas eu ainda o conservo”, diz Nascimento. Se o bico já não é mais o mesmo na vida real, pelo menos ele se perpetua nas capas das edições anuais de Pesquisa Mineral da In The Mine. O “reencontro” com o geólogo, desta vez, não foi mesmo obra do acaso. Ele foi descoberto no Facebook, logo na primeira busca e sem grande esforço de prospecção e sondagem.
Em quase 10 anos, ele migrou do trabalho com pesquisa e exploração para a gestão de risco em vilas e favelas, em Contagem (MG), mas o direcionamento político do trabalho fez com que se demitisse. Preferiu trabalhar com um amigo e passou a atender pequenas mineradoras, fez relatórios de pesquisa mineral para cimenteiras e trabalhou numa mineradora de ouro no Maranhão, recolhendo dados para gerar um modelo geomecânico de mina subterrânea.
No ano passado, como a maioria de seus pares, sentiu na pele as consequências das indefinições em relação ao Código de Mineração. Por isso, teve que conciliar a geologia com uma outra atividade que, por sorte, tem lá alguma afinidade. Com um dinheiro que havia guardado, comprou um terreno em Serro (MG), onde vive hoje com a esposa e seus dois filhos e onde pratica permacultura – uma abordagem holística para planejamento sustentável de jardins, vilas e mesmo comunidades inteiras.
“O passado ficou para trás”, diz ele. “Hoje, estou mais maduro e a experiência adquirida conta a favor, quando se trata de achar respostas às situações propostas. Por outro lado, o joelho já não é mais o mesmo de anos atrás”.
(Publicado na edição 56 da revista In The Mine- maio-junho 2015)