QUEM É ESSA MULHER?

Personalidade ITM4,3

Ela é Maria de Lourdes Fortes Álvares da Silva, engenheira de minas formada pela Escola de Minas de Ouro Preto, onde nasceu, com mestrado em processamento de minerais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi ela quem coordenou o projeto da planta de beneficiamento da mina de cobre de Sossego, no Pará, da CVRD (Cia.Vale do Rio Doce), desde a engenharia conceitual até seu comissionamento, entre o final de 2000 e o início de 2003. No momento, Maria de Lourdes está no comissionamento de Brucutu, também da Vale, em Minas Gerais, que será a maior mina de minério de ferro do mundo, e gerencia a implantação das unidades de concentração, em Germano (MG) e de pelotização, em Ponta de Ubu (Espírito Santo), para a Samarco, com início de operação previsto para 2008.

Não é demais dizer, ainda, que através da ECM Projetos Industriais, onde é sócia e diretora técnica, ela participa da expansão da planta de fosfato da Bunge, em Araxá (MG), de projetos em não-ferrosos (zinco) da Cia.Mineira de Metais (CMM) e de estudos para a Vale, Samarco e Paranapanema, entre outras empresas. Há trabalhos também para a MMX, de Eike Batista, em dois de seus grandes projetos em minério de ferro, em Minas e no Pará. Se essas referências atuais ainda não são suficientes para reconhecer Maria de Lourdes, talvez, puxando pela memória, muitos se lembrem do projeto IB-I/III, da antiga Samitri, hoje da Vale, executado há mais de 15 anos. “É meu projeto ‘de coração’. Foi o primeiro em que tive uma participação grande e representou um marco na minha vida profissional”, orgulha-se a engenheira.

Num ambiente típico e ainda majoritariamente masculino, garante que não experimentou – ou não percebeu – qualquer restrição à profissional por ser mulher. “Tive alguns problemas de relacionamento, por ser um pouco briguenta e por falar as coisas com uma objetividade que pode chocar”, considera. Cita outros exemplos femininos, como o de mulheres na Vale e na Samarco, que dirigem caminhões fora-de-estrada ou operam salas de controle, e pondera: “Não se trata de uma competição com os homens, mas de uma integração. Intelectualmente, as competências são iguais. Emocionalmente somos diferentes. É preciso achar um equilíbrio entre a exposição excessiva e a insensibilidade total”. Poucas mulheres poderiam falar com tamanha autoridade. É o caso de Maria de Lourdes e se o nome ainda não foi associado à pessoa, a explicação é básica. Todos a conhecem por Dedé, como ela também será chamada a partir de agora nesta entrevista.

In The Mine: Quais são as principais etapas do projeto de uma planta de beneficiamento?
Dedé: Usualmente, um projeto de beneficiamento de minérios começa com a etapa de engenharia. Pelo menos, os projetos bem sucedidos. Um projeto de médio e grande porte, dentro das etapas de engenharia, passa primeiramente pelo chamado scoping study. É um termo sem tradução adequada para o português e que significa começar a desenvolver uma ideia voltada para o negócio. Nessa fase, as corporações entendem que a ideia é promissora, o que permite passar à etapa seguinte – do estudo de pré-viabilidade ou projeto conceitual. Mais uma vez, se o projeto provar-se economicamente atrativo, passa-se ao estudo de viabilidade final. Aprovado esse estudo, seguem-se o projeto básico e o detalhado – da engenharia propriamente dita -, e as fases de construção, montagem eletromecânica, comissionamento, teste e start-up.

In The Mine: Como concluir que um projeto é viável?
Dedé: Um projeto é viável com base em parâmetros técnicos e financeiros. Primeiramente, seus produtos devem estar dentro das especificações de mercado. Em segundo lugar, esse projeto deve dar retorno financeiro aos acionistas, dentro das taxas que eles próprios estabeleceram. Ou seja, define-se o investimento, calcula-se o custo operacional e estabelece-se qual a rentabilidade esperada. A partir do momento em que essa rentabilidade é atingida e fica demonstrado que existe viabilidade técnica para fabricar produtos comerciais, com mercado garantido, o projeto é considerado viável.

In The Mine: De que consiste a fase inicial, de desenvolvimento do projeto?
Dedé: Nas etapas de pré-viabilidade e de viabilidade são definidos conceitos. Deve existir uma interação grande com o cliente, com o dono do projeto, porque o objetivo, então, é estabelecer qual o custo de investimento, além de se confirmar a exeqüibilidade técnica de desenvolver o projeto gerando um produto competitivo. Definido o projeto como viável, inicia-se sua materialização. Ou seja, o desenvolvimento de toda a documentação para compra dos equipamentos, a construção civil (projetos de obras civis, terraplenagem, concreto, projetos para fabricação das estruturas metálicas, etc) e, finalmente, os projetos que vão interligar todos as instalações (elétrica, controle, automação, comunicação, paisagístico, de urbanização do entorno, entre outros).

In The Mine: Também o quadro de pessoal já terá sido estimado?
Dedé: De um modo geral, sim, porque faz parte do escopo de um projeto o desenvolvimento das instalações de apoio (escritórios, vestiários, refeitórios), que tem como base a equipe de operação futura. Quando o cliente é uma empresa como a CVRD, ele tem padrões próprios que nos são repassados. Se for, por assim dizer, um estreante, temos uma participação maior nessa definição.

(Julho/agosto 2006)

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