É assim, parafraseando Camões, que o engenheiro de minas Kleber de Souza fala de mineração e também da geologia, carreira escolhida por sua filha mais velha, que acaba de prestar o vestibular para a Escola de Minas de Ouro Preto (MG), a mesma onde ele se formou há 18 anos. Paulista de Campos do Jordão e mineiro por adoção da cidade de Cambuquira, onde foi criado, Kleber está em Carajás (PA) desde abril de 2005. É o gerente geral de mineração do Departamento de Ferrosos Norte, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), trabalho que considera o maior desafio de toda a sua carreira.
Com apenas 42 anos de idade, é cedo ainda para afirmar se esse será seu maior desafio. Mas não é difícil concluir que foi preparado para ele. Especializado em engenharia de qualidade e produtividade pela Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), com mestrado em planejamento de mina pela Escola de Minas de Paris, na França, Kleber passou 9 anos na MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), como engenheiro de operação e gerente de planejamento das minas de Águas Claras e do Pico. Outros 3 anos esteve na Quebec Cartier Mining Company (QCM), no Canadá. Também foi o gerente de planejamento de longo prazo do Sistema Sul da Vale e o gerente geral da região oeste, respondendo pelas minas Fábrica e Córrego do Feijão.
Kleber diz que o trabalho é uma de suas paixões. Provocado a dizer as outras – principalmente quando não está gerente geral de Carajás – ri e fala de estar junto com os amigos, a namorada e as filhas. Também gosta de ouvir boa música e de ler. Ao lado de Camões, elege o também português Fernando Pessoa e os brasileiros Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira. Porque, entre outros gêneros literários, ele prefere a poesia? A resposta é rápida, segura e, ela própria, um verso: “É que a poesia combina duas coisas fundamentais na vida – a verdade e a beleza”.
In The Mine: Quais são suas atribuições como gerente geral de mineração?
Sou responsável pelas operações de lavra nas minas de ferro de Carajás, o que envolve toda a estrutura produtiva da lavra, desde o planejamento e geologia ao basculamento dos caminhões nas pilhas de estéril e alimentação dos britadores da usina de beneficiamento. Ou seja, da geologia, pesquisa nas áreas contíguas, modelamento geológico, plano de lavra de longo prazo e seqüenciamento de mina, passando às operações de mineração (perfuração, desmonte, carregamento e transporte), infra-estrutura e manutenção de toda a frota de equipamentos.
In The Mine: O que é importante no planejamento de mina?
É preciso associar ao planejamento a questão do conceito de operação e manutenção, de forma que tudo aquilo que foi planejado possa ser efetivo. Que tudo que se imaginou se torne realidade no menor prazo. No nosso caso, como a demanda mundial por minério de ferro está muito aquecida, a palavra-chave é a velocidade de implantação, realizando tudo da melhor forma e com a maior rapidez possível.
In The Mine: Para isso, quais fatores devem ser considerados?
Devem ser considerados os requisitos de todas as dimensões – operação, produção, manutenção, custo, qualidade, segurança, o moral do time, meio ambiente e responsabilidade social. O ideal é itemizar cada uma dessas dimensões para planejar todas as questões ligadas a elas.
In The Mine: A evolução tecnológica facilitou a tarefa dos gerentes de mineração?
É claro que sim. Hoje, é possível monitorar todos os indicadores críticos das máquinas, o que permite atuar antes da falha. A diagnose e o monitoramento dos sinais vitais do equipamento são ferramentas preciosas para assegurar não apenas sua disponibilidade física, como sua confiabilidade, de forma a reduzir a freqüência de quebra. Além da frota, contamos também com aplicativos para o planejamento de lavra, para o controle e despacho dos caminhões e para os controles das operações (utilização, disponibilidade física e produtividade).
(Maio/junho 2006)
