O ano de 2025 começou com muita atividade geopolítica internacional de impactos potenciais no setor mineral brasileiro. Instituindo uma política energética e mineral dos EUA com o objetivo de aumentar a produção doméstica de petróleo e gás, o presidente Trump declarou “emergência energética nacional” e adotou o lema “drill, baby, drill”.
Para fortalecer essa indústria, tornou-se urgente a gestão da matriz de recursos minerais e outros produtos que sustentam a economia moderna e a segurança nacional norte-americana, além da diversificação das cadeias de suprimentos, o aumento da produção doméstica e a redução da dependência de fontes estrangeiras. Esses temas foram apresentados nos debates do Resourcing Tomorrow, evento que aconteceu em Londres, em dezembro de 2024.
Dos 50 minerais considerados críticos por seu Serviço Geológico, o USGS, os EUA dependem 100% das importações de 12 deles e mais de 50% de outros 31 minerais críticos . As listas de minerais críticos mudam ao longo do tempo e refletem as mudanças nas cadeias de fornecimento. Influências como eventos geopolíticos têm impactos significativos em sua avaliação – como os conflitos na Ucrânia e Oriente Médio, a pandemia de COVID-19 e mudanças de agentes políticos.
Nas últimas semanas, acompanhou-se a taxação dos EUA sobre importações do Canadá e China, dentre outros países. O Canadá é a maior fonte de importações minerais dos EUA, responsável por US$ 47 bilhões em 2023, seguido da China, com US$ 28,3 bilhões.
O Canadá é o segundo maior produtor e exportador mundial de urânio, atendendo a cerca de 25% da demanda doméstica dos EUA. O urânio é um dos elementos mais importantes da era moderna, fonte da energia nuclear que sustenta a economia atual, com destaque para a inteligência artificial e a manufatura pesada e foi reincluído na lista de minerais críticos dos EUA. O urânio foi priorizado em uma das primeiras ordens executivas do presidente Trump, pois, apesar dos EUA serem atualmente o maior produtor de energia nuclear do mundo, há a expectativa de que a China ultrapasse essa capacidade de geração até 2030.
Também aumentou a escalada da guerra comercial entre os EUA e a China após aumento das restrições às terras raras, o que ressalta a importância de diversificar as fontes de minerais críticos.
Dando um giro por outros continentes, percebe-se a estruturação de organizações que promovem o desenvolvimento, a extração e o fornecimento sustentável de minerais críticos, considerados essenciais para a economia e a segurança nacional de um país, mas que possuem alto risco de interrupção no fornecimento, principalmente para indústrias estratégicas, como tecnologia, defesa, energia renovável e eletrônicos. Atualmente, a União Europeia tem 34 minerais críticos de alta importância para sua economia com alto risco de interrupção do fornecimento.
A CMIA (Critical Minerals International Alliance) é a aliança global que reúne governos, empresas, instituições de pesquisa e outras partes interessadas com o objetivo de garantir o fornecimento sustentável, seguro e constante de minerais críticos. A iniciativa reflete a crescente conscientização global sobre a importância dos minerais críticos e a necessidade de colaboração internacional, equilibrando o desenvolvimento econômico com a responsabilidade ambiental e social.
A CMIA congrega as Critical Minerals Associations do Reino Unido, Austrália, EUA e África (com parceria do Canadá), e tem como principais atividades: 1) Defesa de políticas públicas para incentivar a exploração e o beneficiamento de minerais críticos; 2) Parcerias internacionais para diversificar as fontes de fornecimento e reduzir riscos geopolíticos; 3) Incentivo à inovação em mineração sustentável e reciclagem de minerais; e 4) Apoio a empresas e investidores que buscam expandir a mineração e a produção de minerais críticos.
Além de promover a colaboração entre os atores da cadeia de suprimentos e empresas de apoio, a CMIA conduz grupos de trabalho com temáticas de ESG (ambiental, social e governança), percepção e engajamento público e economia circular.
Como o Brasil pode ser um mercado mais atrativo para investimentos internacionais?
A política dos EUA de incentivar a produção doméstica de minerais pode levar a uma competição mais acirrada, mas também abre oportunidades para o Brasil se firmar como fornecedor alternativo. Adicionalmente, as associações internacionais de minerais críticos buscam o estabelecimento de alianças geopolíticas com o Sul Global para garantir um fornecimento seguro desses recursos, que atenda às necessidades minerais do século XXI.
Para o Brasil, esse contexto geopolítico global representa tanto desafios quanto oportunidades. A capacidade do setor mineral brasileiro de se adaptar a essas tendências e explorar as alternativas será crucial para seu sucesso em 2025 e além. O país tem reservas importantes de minerais e está bem-posicionado para atender à crescente demanda global por minerais críticos e estratégicos e pode ser entendido como um mercado emergente importante em substituição e alternativa a parceiros convencionais desses países.
Assim, potencializar o ecossistema de players do setor mineral brasileiro (empresas de mineração, mercado financeiro, fornecedores de serviços, consultorias técnicas, financeiras e jurídicas, profissionais qualificados e órgãos reguladores) faz-se urgente, de forma que todas as peças estejam desenvolvidas e eficientes para o momento que se aproxima e possam aproveitar esta onda.
No que tece ao universo dos dados geológicos e da qualidade da informação, tema a que me dedico há alguns anos, destaco a importância de divulgação em larga escala dos princípios transparência, materialidade e competência dos padrões internacionais, que conduzem os trabalhos de exploração, implementação e operação, de forma a traduzir o risco do investimento, aumentar a transparência e a credibilidade, tornando os projetos brasileiros mais competitivos no mercado global. Inclui-se nessa demanda o atendimento às práticas de ESG recomendadas.
Parte do mercado brasileiro está adequado e familiarizado com esse processo, como é o caso das empresas listadas em bolsas de valores (veja box). Estima-se que cerca de 500 projetos poderiam se estruturar para se habilitar a recursos destinados às transações de minerais críticos.
Portanto, o Brasil tem uma chance única e oportuna de se firmar como um mercado atrativo para investimentos internacionais, aproveitando seu potencial mineral e se adaptando às novas dinâmicas geopolíticas. Que todos os envolvidos estejam prontos para aproveitar essas oportunidades!
Empresas listadas em bolsas de valores com operações no Brasil
Trabalhos realizados por PENHA et al (2021) e PISANI et al (2024) acompanham a evolução do número de empresas listadas em bolsas de valores do mundo todo que operam no Brasil e, desde setembro de 2024, são atualizados em tempo real (https://geoansata.com.br/listadas/).
No fechamento desta edição da revista (fevereiro/2025), os números do levantamento eram: 27 bolsas de valores e 106 empresas (235 projetos), sendo 81 Junior Companies (76%), 34 listadas na TSX/TSXV e 32 na ASX; 22 Major (21%) e 3 Mid-tier (3%), todas em Toronto.

*Geóloga e Mestre em Recursos Minerais pelo IGc-USP, Doutora em Engenharia Mineral pelo PMI-EPUSP e Diretora Executiva da GeoAnsata Projetos e Serviços em Geologia
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