Uma carreira impressionante em grandes mineradoras, passando pelo Pará, com a bauxita da MRN (Mineração Rio do Norte) e o minério de ferro e cobre da Vale, areias betuminosas da Shell Canadá, níquel da BHP Billiton em Mount Keith, na Austrália e, de volta ao Brasil, na Mirabela Mineração, atual Atlantic Nickel, para ficar apenas em alguns exemplos. Não menos importante, a sociedade com José Mendo Mizael de Souza, figura lendária da mineração brasileira e um de seus mestres, após seus pais, na J.Mendo Consultoria, hoje de sua propriedade.
Mais que por essa trajetória, nos últimos três anos, ele se tornou conhecido pela defesa incansável de um projeto iniciado em 2009, com o ambicioso objetivo de encravar na Amazônia brasileira uma mina de potássio. Nunca antes na história deste país, parodiando frase do atual presidente Luís Inácio Lula da Silva, se falou tanto em um projeto de mineração. Para o bem e para o mal. Entraram para o mapa do país a distante cidade de Autazes, no Amazonas, e o povo indígena Mura, etnia até então bem menos famosa que a dos Kaiapós, Ianomâmis, Xavantes ou Guaranis, cujo protagonismo tornou o licenciamento do projeto um imbróglio jurídico – ainda não de todo resolvido – capitaneado pelo Ministério Público Federal (MPF).
Presidente da Potássio do Brasil, subsidiária da canadense Brazil Potash, desde 2021, Adriano Viana Espeschit vem transitando, desde então, por fóruns, órgãos das três instâncias de poder, aldeias várias e veículos da imprensa falada, escrita e digital. Em todas as oportunidades para mostrar a importância do projeto Autazes para a cidade, o estado, o agronegócio e o próprio Brasil, que verá sua balança comercial menos pesada no prato das importações quando a nova mina – a segunda no país – operar em sua capacidade plena daqui a pouco mais de quatro anos. Em todas essas vezes também, para desmascarar as fake news que assombram o empreendimento com os riscos – improváveis, segundo ele – de subsidência ou, literalmente, “salgar” a Amazônia.
Nesta entrevista exclusiva à revista In the Mine, o executivo fala do projeto, da lavra e beneficiamento do minério, logística da operação, rejeitos e resíduos, comunidades locais e programas socioambientais. Dispensa a necessidade de uma política nacional para minerais críticos e estratégicos e, ironicamente, diz que só assinaria o PL 2780, que trata do tema, se ele proibisse a divulgação de fake news. A jovens engenheiros de Minas recomenda: “Acreditem. Vocês podem”.
ITM: Embora o projeto Autazes seja bastante conhecido, gostaria que você fizesse um breve descritivo do empreendimento.
Espeschit: Autazes começou a partir de uma situação até um pouco inusitada, a partir de um processo de desinvestimento da Petrobras e o grupo Forbes & Manhattan foi considerado vencedor da venda dos ativos de Fazendinha e Arari (AM). Chegamos a pagar o sinal de entrada da transação, mas ela foi descontinuada. Então, resolvemos começar do zero, requerendo áreas livres dentro da potencial bacia evaporítica do Amazonas, para realizar os estudos de exploração mineral. Foi quando se deu a criação da Potássio do Brasil, controlada pela Brazil Potash, com sede no Canadá. Começaram as rodadas de investimento, para atrair investidores, visando desenvolver o alvo Autazes, selecionado a partir de informações adquiridas durante o processo de aquisição da área da Petrobras, que havia realizado furos de sondagem na região na década de 1970, em busca de óleo e gás.
ITM: Quais foram as próximas etapas após a captação de investimentos?
Espeschit: Nós executamos 43 furos de sondagem de mil metros de profundidade cada, fizemos estudos para a avaliação de rotas de processos e, em 2016, a Worley Parsons, hoje só Worley, empresa canadense de engenharia e construção, elaborou o estudo de viabilidade. Apresentamos o Plano de Aproveitamento Econômico (PAE), ao DNPM, atual ANM (Agência Nacional de Mineração) e entramos com o pedido de licenciamento ambiental. Após a obtenção da Licença Prévia (LP), fomos surpreendidos com uma ação civil pública, movida pelo Ministério Público Federal (MPF), cobrando a realização de consulta pública aos povos indígenas situados nas proximidades do projeto.
ITM: Quando foi aberta essa ação pública?
Espeschit: Isso ocorreu no final de 2016 e, já em março de 2017, assinamos um acordo com a Justiça Federal suspendendo a validade da LP por seis meses a fim de deflagrarmos o processo de consulta pública ao povo Mura. Nesse período, fizemos o desmembramento dos direitos minerários para garantir que o projeto Autazes estaria totalmente fora de Terras Indígenas, como de fato está. Também apresentamos um novo PAE, que foi aprovado pela ANM. Em setembro de 2023, obtivemos mais de 90% de aprovação na consulta efetuada às lideranças de 36 aldeias do povo Mura no município, bem acima da aprovação mínima de 60% exigida por lei. Não foi unanimidade, mas foi uma maioria significativa.
ITM: E durante esses sete anos, os investidores se mantiveram no projeto?
Espeschit: Sim, investidores que acreditaram desde o início. Alguns, inclusive brasileiros, de Manaus (AM), que detêm 12% das ações. Hoje temos uma participação mundial bastante significativa. O maior investidor é o CD Capital (30,7%), da Inglaterra, seguido do Sentient Equity Partners (20,9%), da Austrália, ambos fundos de private equity mineral, e do Forbes & Manhattan Barbados (12,2%). O restante, cerca de 24%, está diluído entre 7 mil investidores minoritários, predominantemente dos Estados Unidos.
ITM: Qual o valor dos investimentos até agora?
Espeschit: Foram cerca de US$ 250 milhões, principalmente em exploração mineral, já que cada furo de sondagem custa entre US$ 1 milhão e US$ 1,8 milhão. A maioria deles, como eu já disse, teve em torno de mil metros de profundidade, mas chegamos além disso em alguns casos. E estamos prospectando outros alvos para ampliar os recursos e reservas.
ITM: Qual será a produção da futura mina?
Espeschit: A mina tem cerca de 23 anos de vida útil e foi projetada para ter uma capacidade de 2,2 Mtpa de cloreto de potássio. Com esse volume reduziremos a dependência brasileira do produto em cerca de 20%, baixando as importações dos 98% atuais para perto de 80%, em um mercado que demanda aproximadamente 13 Mtpa.
ITM: A implantação do projeto já foi iniciada? Qual será a geração de empregos?
Espeschit: Já iniciamos algumas atividades de campo, até porque precisamos resolver outras questões antes, como preparar toda da documentação, discutir assuntos de engenharia com potenciais fornecedores, esclarecer dúvidas e fazer todo o planejamento de campo para minimizar surpresas. Em termos de geração de empregos teremos, no período de obras, 2.600 empregados em média, durante os quatro anos ou quatro anos e meio de implantação, chegando a picos de até 4 mil empregados. Já na operação, a previsão é de 1.300 postos de trabalho diretos e 15 mil indiretos. Nosso compromisso é que 80% dessa mão de obra, no mínimo, seja local e capacitada durante a construção da mina.
ITM: Qual será o método e equipamentos empregados na lavra?
Espeschit: A mina subterrânea terá dois shafts de 930 m de profundidade aproximadamente, um para produção e outro para ventilação. O método de lavra será o de câmaras e pilares longos e foi desenhado por uma empresa alemã especializada, a Ercosplan, que inclusive forneceu serviços para Taquari-Vassouras, no Sergipe, a única mina de potássio em operação no Brasil. No nosso caso, o minério está a cerca de 800 m de profundidade, com variações em determinados pontos. Quanto aos equipamentos são os modelos convencionais da mineração de sais de potássio, como mineradoras contínuas, conhecidas por “mariettas”, para o desmonte, operando em 3 a 4 frentes de lavra simultâneas, conforme a programação e a distância de transporte. É uma tecnologia comprovada, sem nenhum risco de inovação tecnológica significativo.
ITM: Quais são os principais cuidados requeridos nesse tipo de lavra? Há, por exemplo, o risco de subsidência da superfície da mina como ocorreu com a Braskem, em Alagoas?
Espeschit: É uma excelente pergunta, porque pode esclarecer essa questão de uma forma até definitiva. Primeiramente, nosso método de lavra é distinto do utilizado pela Braskem, que é o de dissolução, sem monitoramento físico in loco. Os pilares são dimensionados para que não tenha subsidência. Tanto que esse fenômeno jamais ocorreu em Taquari-Vassouras. O dimensionamento precisa ser feito de forma adequada, utilizando os fatores de segurança necessários para garantir a sustentação dos pilares. Nossa lavra será feita com tanto critério que a recuperação do minério será praticamente reduzida à metade. Isso porque o minério contido nos pilares não será lavrado. Logicamente que, com a evolução da tecnologia, podemos chegar, no futuro, inclusive a lavrar também os pilares, o que Taquari-Vassouras está fazendo atualmente para estender a vida útil da mina. O licenciamento técnico e ambiental que recebemos é uma garantia de que trabalharemos com total segurança.
ITM: Qual será o volume de geração de rejeitos e sua forma de disposição?
Espeschit: O volume de rejeitos é zero. Claro que haverá um material resultante da escavação dos shafts e do desenvolvimento da mina. Esse material, não sendo sal, será estocado em uma pilha de inertes, porque ele é arenoso. Sendo sal será estocado na pilha de sal, a mesma que receberá o resíduo do processo de beneficiamento. Do minério que extraímos, cerca de 30% é silvinita, que gera o cloreto de potássio, e cerca de 70% é halita, ou cloreto de sódio, sal de cozinha, o resíduo que, uma vez separado no beneficiamento, será estocado em uma pilha temporária. Isso porque é preciso terminar de esvaziar um painel ou câmara para trazer esse material da superfície e realizar o backfill ou preenchimento dos espaços vazios no subsolo. Por isso, aquela pilha é inicialmente temporária. No decorrer do tempo, esse processo se torna circular: esvaziando e preenchendo sucessivamente os espaços até o final da vida útil da mina, de forma a não restar sequer um grama de resíduo na superfície.
ITM: Falando em beneficiamento, quais serão as etapas e equipamentos empregados?
Espeschit: A rota de beneficiamento é muito simples. Após a britagem, o minério é submetido a uma lixiviação a quente ou hot leaching, sem adição de qualquer reagente. Na polpa gerada, quando resfriada, temos o cloreto de potássio, que cristaliza primeiro que o cloreto de sódio, e pode ser retirado, secado e compactado na forma de granulados. O cloreto de sódio cristalizado não precisa ser compactado porque será estocado na pilha de sal. Assim como na lavra, é um processo amplamente utilizado, embora diferente do que existe em Taquari-Vassouras, por flotação. Esse método, no nosso caso, não foi considerado adequado por não permitir uma recuperação econômica ou mais econômica do minério, com o teor recomendado para atender às necessidades do mercado. Quanto aos equipamentos, teremos uma sequência de três etapas de britagem e caldeiras ou tanques usuais de aquecimento na lixiviação.
ITM: A captação de água será feita do rio Madeirinha, correto? Qual ser o volume dessa captação e o percentual de reuso?
Espeschit: Originalmente, apresentamos a alternativa de captar água de poços profundos. Ou seja, de aquíferos disponíveis na região. Por sugestão do órgão ambiental do estado – e aqui, destaco a importância da interação que tivemos com os técnicos ainda na fase da Licença Prévia –, estudamos a viabilidade de captação do próprio rio, que não será o Madeirinha, mas o próprio Madeira. Uma opção inclusive mais cara que a anterior, mas que a empresa decidiu acatar por ser mais viável ambientalmente falando. Da água nova captada, haverá uma certa perda por causa do aquecimento na lixiviação, uma evaporação normal. Mas, no resfriamento da polpa, prevemos a recuperação do volume restante, com reutilização da ordem de 70% da água nova captada.
ITM: Em relação à logística, o EIA-Rima de 2015 aponta um tráfego diário de 700 caminhões de 35 t, para o transporte do cloreto de potássio da mina ao porto de Urucurituba e, no sentido inverso, para o transporte de equipamentos, peças, materiais e pessoal. Quais são os programas para minimizar a emissão de particulados e poluentes nessa rota?
Espeschit: Em primeiro lugar, se eu tiver 700 caminhões por dia de 35 t trafegando 25 dias por por mês, eu produziria 7.350.000 t de cloreto potássio por ano. Como vou produzir só 2,2 Mtpa ou cerca de 200 mil t/mês, serão necessárias 200 viagens de caminhões de 35 t nesse trajeto de 12 km. Se o número de 700 caminhões consta do nosso EIA-Rima, deve
ter ocorrido algum erro material. Além disso devemos empregar bitrens de 70 t e vamos usar a melhor frota possível. Tínhamos estudado a possibilidade caminhões movidos a gás, pela proximidade do gasoduto. Mas, com a construção de uma nova termelétrica, o fornecimento do campo mais próximo de nossa mina está comprometido. Todos os equipamentos da mina serão elétricos e vamos avaliar essa opção também para os caminhões de transporte, considerando a infraestrutura para o carregamento das baterias. Talvez, no nosso caso, o uso de biocombustíveis nesses veículos seja até melhor.
ITM: Ainda em termos de meio ambiente, quais são os planos para reduzir as emissões na mina e na usina?
Espeschit: Nosso potássio será o mais verde do mundo, não apenas pelas práticas, mas principalmente pelo posicionamento da empresa nessa questão. Apenas por estarmos no Brasil, cuja matriz energética é 84% renovável, vamos reduzir as emissões em 1,2 Mt de CO2e (dióxido de carbono equivalente) para a produção de 2,2 Mtpa de cloreto de potássio, se comparado ao Canadá ou à Rússia, onde a energia provém da queima de gás ou carvão. Outra questão locacional é que, por estarmos mais perto do mercado consumidor, evitaremos a queima de diesel para importar potássio do Canadá, da Rússia ou da Bielorrússia. Para vir de Saskatchewan, no Canadá, por exemplo o potássio viaja 2.500 km de trem até Vancouver, sendo embarcado em um navio até chegar ao Porto de Santos (SP) e, de lá, carregado em caminhões para subir até o Mato Grosso.
ITM: E no caso da Potássio do Brasil?
Espeschit: Nosso produto seguirá em barcaças, do Porto de Uricurituba até Porto Velho, em Rondônia, onde desce em caminhões até o Mato Grosso. Com uma vantagem adicional: pega o frete de retorno do caminhão, que sobe com a soja até a barcaça para exportação, enquanto o navio volta vazio para o Canadá. É um exemplo mínimo de ações diretas que nos permitirão o reconhecimento, quer seja em créditos de carbono que poderemos ofertar ao nosso consumidor final, como também de nossas atitudes. Já anunciamos também que vamos recuperar uma área 10 vezes maior do que a que ocupamos com a mina, com plantio de árvores e gerando atividades socioeconômicas para a comunidade. Um lote dessa área pode ser cedido para a formação de um pomar de uma determinada fruta, como o cupuaçu. Podemos industrializar a produção de cupuaçu para exportação. São programas que geram créditos de carbono. Também queremos subsidiar a agricultura familiar, fornecendo nutrientes para revitalizar o solo evitando o desmatamento de novas áreas. São desmatamentos localizados, mas que, multiplicados pela quantidade de agricultores familiares, se tornam relevantes.
ITM: Eu gostaria de retomar a questão do controle de particulados e poeira.
Espeschit: Em relação a essa questão, eu lembro que estamos na Amazônia, um ambiente naturalmente úmido, condição que minimiza o problema de dispersão de particulados. Mas veja como é mais uma vez importante a interação com não só os órgãos ambientais, mas especialistas. Durante o processo de consulta ao povo Mura, os especialistas da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), levantaram o problema de que a formação de particulados em Autazes poderia provocar a ocorrência de chuva salobra em Manaus. Embora a predominância das correntes de vento não siga nessa direção, era uma probabilidade, ainda que pequena. Mesmo assim decidimos instalar aspersores em nossa pilha de sal. É isso o que queremos. Conversar com a comunidade, com os stakeholders, para poder trazer melhorias ao projeto.
ITM: Em relação ao transporte do minério em barcaças, em outras épocas falaríamos apenas do problema de cheia e vazante do rio. Agora vemos a seca completa em vários trechos. Como vocês estão vendo essa situação diante da logística fluvial que estruturaram?
Espeschit: Logicamente, esse assunto está em voga agora, devido a uma situação cíclica e momentânea. Conversei recentemente com o diretor de Operações do grupo A Maggi, que me disse que é a primeira vez que rios secaram em 25 anos. Os governos estadual e federal estão atuando para minimizar esse problema. Temos a hidrovia do rio Madeira, que poderá se tornar uma concessão e, dessa forma, garantir a navegabilidade na região. Para isso, será preciso fazer a dragagem do rio, como aconteceu no Mississipi (EUA). Também temos um plano B, de utilizar a BR-319 (rodovia Manaus-Porto Velho), como alternativa de transporte. De toda forma, trata-se de uma situação momentânea que cria um risco com probabilidade de provocar algum impacto real no projeto. Mas será mínimo.
ITM: Você disse que grande parte da força de trabalho na operação será local. Como será feita a capacitação dessas pessoas?
Espeschit: No caso dos equipamentos temos os treinamentos técnicos que são realizados pelos próprios fornecedores. Também faremos parcerias com instituições empresariais do estado ligadas ao Sistema S, como o Senai (Serviço Social de Aprendizagem Industrial). Já temos alguns pré-acordos que serão reestruturados com alguns ajustes, em função da evolução do projeto. Temos tempo suficiente para fazer isso e a experiência de nosso time, que já implantou projetos em regiões até mais remotas e complicadas.
ITM: Quais programas sociais para comunidades locais serão implementados?
Espeschit: Não definimos comunidades específicas porque nosso foco é Autazes e região. Em termos de impacto, o Termo de Referência da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) considerou quatro áreas nas proximidades do projeto: Paracuhuba, já homologada, Jauary, que foi delimitada, a comunidade do Lago do Soares e a Vila de Urucurituba, todas da etnia Mura. Dessas, como se vê, somente Paracuhuba pode ser considerada Terra Indígena, segundo a definição em lei. Das outras três, apenas uma está em processo de homologação, contrariamente ao que afirmam movimentos de Organizações Não Governamentais (ONGs). Lembrando que a Constituição de 1988 permite a extração de bens minerais em Terras Indígenas, desde que regulamentada pelo Congresso Nacional.
ITM: O potássio é considerado um mineral crítico. Nesse sentido, qual sua avaliação do PL 2780/2024, de autoria da Frente Parlamentar de Mineração Sustentável (FPMin), que institui a política nacional de minerais críticos e estratégicos?
Espeschit: A classificação como minerais críticos ou estratégicos é móvel, de forma que o mineral hoje assim considerado pode não sê-lo amanhã, assim como um mineral pode ser incluído em uma ou outra categoria. O Brasil atrai investidores que tomam suas decisões baseados na situação em que o país se encontra, através de um processo de due diligence. Eu trabalhei na Austrália e no Canadá e conheço muito bem o Chile e sei que, em comparação a esses países, a legislação brasileira é muito boa. O problema é que temos muito mais interferências externas, não de outros países, mas situacionais, no sentido de que sempre precisamos de algo a mais. Melhorias contínuas da legislação são sempre benvindas. Mas não teria problema nenhum em licenciar o projeto Autazes seguindo a legislação brasileira atual. No entanto, apesar de estarmos fora de Terras Indígenas, o que tira a competência de licenciamento do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), ficamos discutindo essa questão por sete anos e meio. Não preciso de um novo Projeto de Lei para definir o que é ou o que não é.
ITM: Mas a instituição de uma política nacional não seria importante para aumentar a segurança jurídica em situações como a do projeto Autazes?
Espeschit: De que adianta um política? O licenciamento do projeto Autazes passou por cinco presidentes, cinco governadores e três prefeitos. Então, não precisamos de mais regulamentações. Insisto que temos uma legislação muito boa. Nossa legislação ambiental é excepcional, se comparada à de outros países. O problema aqui é que o empreendedor não pode falar o que vai fazer porque acham que ele não vai fazer. Além disso, inventa-se o que não existe. Por exemplo: após os acidentes com as barragens em Minas Gerais, dizia-se que a barragem de rejeitos do projeto Autazes iria ruir e salgar a Amazônia inteira. Primeiro, não teremos barragem de rejeitos em Autazes. Segundo, mesmo que toda a nossa produção fosse lançada no rio Madeira, na pior das hipóteses, a alteração da salinidade da água seria bem inferior aos limites estabelecidos na legislação ambiental. Outra invenção: um fenômeno de subsidência como o das minas de salgema em Maceió (AL). Só que nosso método de lavra é outro. Além disso teremos monitoramento 24 h/dia. Se houver uma variação de 0,01 mm, será detectada de imediato. A mina Morro Velho, em Nova Lima (MG) está a 2,6 mil m de profundidade e nunca registrou subsidência. Também dizem que ela passa sob a Praça Sete, em Belo Horizonte, quando ela segue na direção oposta. É duro lidar com essas fake news. Se o PL 2780 proibisse a divulgação de fake news sobre a mineração, eu assinaria embaixo.
Perfil
Nasceu em: Curvelo, Minas Gerais, em 09/09/1965
Mora em: Nova Lima, Minas Gerais
Formação: Engenheiro de Minas, formado em 1987 pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Trajetória Profissional: Minha primeira experiência foi na mina subterrânea de potássio de Taquari-Vassouras, da Petromisa (Petrobras Mineração). Mineração Rio do Norte – MRN (Engenheiro técnico de Suporte a Diretor de Planejamento e Controle de Operações, 1989/92). Minerações Brasileiras Reunidas – MBR (Engenheiro sênior a Diretor de Mineração, 1992/2000). Vale (Engenheiro sênior a gerente geral de Não Ferrosos, 2000/05). Shell Canadá (Líder de Desenvolvimento de Projetos, 2005/07). BHP Billiton (Gerente geral de Operações de Mount Keith, 2007/08). Mirabela Mineração, atual Atlantic Nickel (Diretor de Operações, 2009). Steel do Brasil Participações (Diretor de Operações, 2010). E3 – Energy, Environment & Emergency (CEO, 2010/11). Ouro do Brasil Mineração (CEO, 2010/13). Zinco do Brasil (COO, 2012/14). Vortex Tecnologia Manutenção e Serviços (Diretor executivo, 2013/14). EDR (Partner, 2018/20). Alamo Parkent Mineração (2017/21). J.Mendo Consultoria (Diretor executivo, 2010/…). Nhandu Parkent Mineração (CEO, 2017/…). Potássio do Brasil (Presidente, 2021/…)
Família: Casado, 2 filhos. Me acompanham nessa jornada há 35 anos
Time de futebol: Cruzeiro
Hobby: Trabalhar. Me sinto muito bem fazendo o que faço. E minha família
Um mestre ou ídolo: Minha mãe, dona Marta Maria. Meu pai, dr.Espeschit (como era conhecido o médico Geraldo Viana Espeschit). José Mendo Mizael de Souza
Maior realização: A que vou completar amanhã
Um projeto: Melhorar a vida das pessoas na Amazônia
Um “conselho” a jovens engenheiros de Minas: Acreditem. Vocês podem