Na abertura dos trabalhos desta 3ª feira (21/05), o professor Mark Noppé, da Universidade de Queensland, da Austrália, apresentou o painel “A pesquisa em minerais estratégicos: avanços e novas fontes alternativas”. Em sua apresentação, ele falou sobre os desafios de se trabalhar a energia limpa, de forma colaborativa e responsável, cumprindo prazos cada vez mais curtos, para atender às demandas do mercado.
“Temos um grande trabalho pela frente, já que são etapas mais complexas e não se trata apenas de construir essa energia, mas primeiro, descobrir e extrair esses metais. É preciso lidar com itens-chave, como entender nossa pesquisa, nossa engenharia e nossa química. Há o acesso à terra, os estudos, o desenvolvimento do projeto, o licenciamento e depois a construção, processamento e refino. Além da força de trabalho, pois a mão de obra qualificada é muito importante”, afirmou.
Como descobrir, desenvolver e extrair os minerais críticos em um tempo mais curto do que as etapas de exploração dos minerais tradicionais? A energia limpa requer uma quantidade maior de metais, e o desafio de encontrar novos depósitos minerais vai ficando mais difícil, com custos muito mais altos. “O que sabemos é que as grandes descobertas estão declinando, ficando mais profundas, o que demanda maior complexidade para a extração”, observou.
“Por exemplo, dos depósitos de cobre conhecidos no mundo, 35% deles não estão acessíveis, por razões diversas, como a geografia, a profundidade e até questões geopolíticas. E o que precisa ser feito para acessar esses depósitos? Somos bons em quê? Sabemos construir, aumentar escala, volume, criar soluções de engenharia, mão de obra. Mas isso não resolve a questão da extração desses minerais. Há questões complexas, pois são depósitos difíceis, e é preciso uma gestão responsável de todas as etapas, num tempo curto”, explicou.
Segundo ele, da descoberta do minério até a sua exportação, é um longo caminho, mais árduo do que no processo tradicional. Um dos desafios é superar as deficiências de informações públicas sobre as características do território. Enquanto grandes produtores, como a Austrália, conhecem em detalhes seus distritos minerais, no Brasil apenas 4% do território apresenta mapeamento geológico em escala adequada para a mineração. “Na Austrália temos potencial e boas oportunidades, já que existem reservas de minas críticas em boa quantidade. A indústria australiana é muito conhecida e respeitada, e o país se tornou em destino atrativo para esses investimentos”, disse.
O alto crescimento no setor de extração de minérios na última década abriu espaço para o desenvolvimento de novas tecnologias. Para atender às demandas de inovação e segurança surgiu o METS, presente fortemente na Austrália. A sigla refere-se à indústria de equipamentos, tecnologias e serviços voltados à extração de minérios.
“Essas empresas estão no país há mais de 60 anos, e trabalham próximas às empresas de exploração e mineração. A Austrália, um país estável e competitivo em termos globais, possui vários pilares chave, como infraestrutura e capacidade para o desenvolvimento de novos projetos, além de uma força de trabalho capaz de desenvolver projetos de forma bem sucedida”, diz Mark Noppé.
Ele explica que o governo australiano tem hoje regulações estaduais e federais para a mineração. “O país está muito presente nas discussões internacionais sobre os minerais críticos. Tem buscado acordos e parcerias, e participado intensamente de debates sobre colaboração e cooperação no setor, apoiando projetos do descobrimento à exploração, já que tem recursos estratégicos consideráveis”.
O professor observa, no entanto, que o governo australiano ainda não percebeu que é preciso muito trabalho para que sejam descobertas novas jazidas de minerais críticos. “Muito do feedback que passamos ao governo foi esse, ‘há muito trabalho a fazer’. Na Universidade de Queensland tem sido dado muito apoio no desenvolvimento de hubs locais. O governo tem se movido, buscando facilitar as regulações em níveis estaduais e federais. Não é fácil, mas as iniciativas tem sido encorajadoras”, conta.
Ele diz que estão sendo compiladas descrições cuidadosas dos projetos, do ponto de vista geológico, incluindo-se fatores como o ESG, para que o governo possa utilizá-los. “Temos um novo programa, com recursos de descarbonização, para encontrar recursos que viabilizem a transição energética. Outro ponto é a comercialização de minas abandonadas. Há a possibilidade de reativá-las para explorar seus rejeitos, já que estes depósitos secundários ainda podem ser interessantes. Tudo isso tem sido organizado em um atlas disponível para que o governo tenha acesso”.
Outro estudo desenvolvido relaciona-se à exploração do cobre. “São projetos que têm ficado cada vez mais profundos. Se olharmos o potencial desses depósitos, a mineração já tem recursos para extrair áreas de 1,5 a 2 km de profundidade? Qual o conhecimento necessário para fazer essa extração? São estruturas muito grandes, e é preciso destravar o potencial destes locais. Atender a estas demandas complexas, com gestão responsável e em um período curto, é a nossa busca, nosso desafio”.