A Faculdade de Ciência e Tecnologia da Unesp em Presidente Prudente (FCT) terá um equipamento que permitirá monitorar a qualidade das águas e do ar em tempo real. A unidade foi contemplada com verba federal para a aquisição do SIMA (Sistema Integrado de Monitoramento Ambiental), uma tecnologia brasileira que usa sensores e transmissão via satélite de variáveis na hidrosfera. A aquisição dará a gestores e cientistas da região dados sobre poluição de corpos d´água sem a interferência de fatores sazonais ou da própria dinâmica hídrica local.
“Quando o pesquisador vai a campo, muitas vezes, ele sabe que aquela região tem uma alternação hídrica, mas essa anomalia nem sempre está presente na água no momento da coleta”, explica o geógrafo Paulo Cesar Rocha, professor da FCT e responsável pelo projeto. “Os rios têm a característica de se autodepurarem, e regimes de chuva, frentes frias e outros fatores climáticos alteram a composição da água e do ar. Isso dificulta a busca por amostras que comprovem quaisquer alterações na composição da água.”
Além de gerar insegurança no meio acadêmico, a ausência desse tipo de equipamento cria uma demora na obtenção dos resultados e custos com deslocamentos. Há alternativas, como a análise de peixes, crustáceos, vegetais e bactérias que podem conservar resíduos de contaminação em seus corpos ou indicar algum desequilíbrio ambiental. “Mas só essa ferramenta pode dizer com certeza o dia em que a contaminação foi ocasionada”, defende Rocha.
Para o professor, a região de Presidente Prudente, no Oeste Paulista, será beneficiada pela obtenção rigorosa de dados de poluição. A expansão das monoculturas agrícolas na região é objeto de diferentes estudos da própria Unesp e de outras instituições. São pesquisas preocupadas com os impactos ambientais dessas atividades econômicas. Populações tradicionais, como pescadores, indígenas e quilombolas, também podem ter respaldo em casos de contaminação que tragam impactos para seus modos de vida.
“Nosso foco é gerar dados com a maior precisão possível para que eles sejam aplicados com segurança pelos mais diversos interessados”, afirma o pesquisador. Ele também explica que uma parceria com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) permitirá armazenar todos os dados coletados, criando séries históricas da hidrosfera das áreas monitoradas.
Outra expectativa da equipe de Presidente Prudente é produzir descobertas científicas rm áreas como climatologia, hidrologia, química e geografia.
Parcerias
O SIMA foi desenvolvido pelo INPE e pela Universidade do Vale do Paraíba. Ele é uma plataforma com uma bóia toroidal (circular em torno de um eixo) medindo 2,3 metros de diâmetro, toda fabricada em fibra de vidro reforçado, além de uma torre de alumínio. No vão central da bóia, um compartimento estanque abriga a parte eletrônica do sistema, com baterias e transmissor por satélite. Na torre são instalados os sensores meteorológicos, antena de transmissão de dados e painéis solares, o que dá autonomia ao dispositivo; abaixo da linha d´água ficam instalados os sensores aquáticos.
Sistemas semelhantes são usados por companhias de abastecimento de água e por centros de pesquisa, mas pelo alto custo do equipamento, nem sempre mecanismos como esse estão à disposição de estudos que precisem medir a qualidade de água e do ar.
A aquisição foi viabilizada após o projeto da FCT ter vencido um edital Pró-Equipamentos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Sua concessão está na categoria “multiusuários”, o que permite a outras instituições estabelecer parcerias com a unidade da Unesp para obter dados do sensor e aplicá-los em pesquisas.
No projeto da Unesp, a ferramenta será usada em conjunto com um sistema de geoprocessamento (localização por GPS). A equipe de Rocha trabalha agora para determinar as áreas que serão monitoradas pela Unesp a partir de 2014.
Cínthia Leone
