Acordo ainda sujeito a aprovações regulatórias, com conclusão prevista para o quarto trimestre de 2024, dá à Vale participação de 15% na unidade Minas-Rio, de minério de ferro, da Anglo American que, em contrapartida, poderá desenvolver o projeto Serpentina, de propriedade da Vale. A negociação envolve um repasse de US$ 157,5 milhões em dinheiro à Anglo American e a opção futura de aquisição de 15% adicionais no Minas-Rio pela Vale, quando efetivada a futura expansão da operação.
Segundo dados divulgados no relatório técnico da Vale “Avaliação de Recursos de Minério de Ferro para o Projeto Serra de Serpentina”, a jazida possui recursos minerais de 4,3 Bt de minério de ferro, mais que o dobro do Minas-Rio, com teores médios contidos também superiores – 40% em Serpentina contra 32% no Minas-Rio. O depósito também é predominantemente (79%) composto por minério friável, que misturado aos do Minas-Rio (28%), implicará em custos unitários e aportes de capital menores para sua extração. O Estudo de Pré-Viabilidade (PFS) de Serpentina deve ser concluído em um prazo de 36 meses, a partir da aprovação da transação, e o Estudo de Viabilidade (FS) nos 24 meses seguintes. A depender de seus resultados, será requerida a Licença Prévia (LP) para a expansão do Minas-Rio.
Além das sinergias físicas entre os dois depósitos, a Anglo American poderá contar com a logística ferroviária e portuária da Vale – EFVM (Estrada de Ferro Vitória-Minas) e Porto de Tubarão (ES) – para transporte do minério, caso não opte pela construção de um segundo mineroduto, ligando a mina ao Porto de Tubarão ou ao Porto do Açu (RJ), que integra o sistema Minas-Rio. A rota final será definida no Estudo de Viabilidade. A transação com a Vale não envolve ou afeta a participação de 50% da Anglo American no terminal de exportação de minério de ferro do porto do Açu.
A escala e qualidade da jazida de Serpentina também agregam valor para expandir a produção de pellet feed de qualidade premium da Anglo American, vendida a clientes siderúrgicos, que buscam acelerar a descarbonização de seus processos, rumo à fabricação de aço com baixas emissões de carbono. Parte dos pellets da futura operação também poderá ser alocada nas usinas de pelotização da Vale e, futuramente, em Mega Hubs, para a produção dos chamados briquetes verdes.
Licença Social
A Vale protocolou o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) Serra da Serpentina na Superintendência Regional de Meio Ambiente Jequitinhonha, em outubro de 2022. O estudo trata do projeto de um complexo minerário para produção de minério de ferro abrangendo cavas a céu aberto, usina de beneficiamento e um mineroduto de 107 km de extensão, entre as cidades mineiras de Conceição do Mato Dentro, sede da mina, e Nova Era.
A estrutura de transporte da polpa de minério de ferro atravessa duas bacias hidrográficas, a do Rio Santo Antônio e a do Rio Piracicaba, podendo afetar a capacidade de recarga da bacia do Rio Doce. Além disso, a captação de água para a operação do mineroduto será feita do Rio Santo Antônio, equivalendo a um consumo de 720 Ml de água por mês. Outro efeito negativo é que o projeto afeta diretamente 249 outorgas e usos d’água, hoje utilizados por moradores e empresas locais para consumo humano, animal, industrial e abastecimento público, segundo dados do Rima.
Esses impactos, somados à contaminação do Rio Doce em 2015, com os rejeitos provenientes do rompimento da barragem de Fundão, operada pela Samarco (Vale e BHP), e à existência do mineroduto da Anglo American na mesma região, já geraram forte oposição de entidades ambientais e de gestão de recursos hídricos.
Para o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), a captação de água do rio Santo Antônio prejudicará ainda mais a biota já tão danificada do Rio Doce, postergando para um prazo maior sua recuperação ambiental. O Comitê da Bacia Hidrográfica Santo Antônio, por sua vez, lembra que o mineroduto da Anglo American capta água do Rio do Peixe, afluente do Santo Antônio, apresentando atualmente notável escassez hídrica.
Assim que estiver à frente do projeto Serpentina, a Anglo American terá que responder a esses e, possivelmente, outros questionamentos que surgirão no decorrer do processo e estão diretamente relacionados não apenas ao licenciamento ambiental, como à Licença Social de Operação (LSO) da futura mina.
Foto em destaque: Localização do projeto Serpentina, em Conceição do Mato Dentro (MG). Crédito: Rima/Vale