Com pesquisas minerais, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) gera informações essenciais para impulsionar a transição energética e também abre caminhos para produções mais sustentáveis. As ações que ampliam o conhecimento geológico foram destaque, nesta quarta-feira (31), no “Workshop América-Latina/Europa: Oportunidades de Cooperação Para uma Indústria de Matérias-Primas Mais Sustentável”, que debate, em especial, a cadeia produtiva do alumínio.
Entre as iniciativas apresentadas, estão estudos pioneiros sobre os anortositos. Esse é um tipo raro de rocha, que pode ser uma alternativa sustentável para extração de alumínio (obtido principalmente da bauxita), além de outros minerais. “A rocha anortosito tem uma formação mineralógica peculiar, isso faz com que tenha um valor não só industrial, mas um valor geocientífico importante”, explicou a pesquisadora em geociências do SGB Ana Accioly.
Os levantamentos identificaram ocorrências de anortositos no país e fornecem uma base geocientífica que pode impulsionar e atrair investimentos para o desenvolvimento de novas tecnologias de extração do alumínio. O metal não só é estratégico para a transição energética (com aplicações nas indústrias de transporte, energia, construção civil, entre outras), como também tem impactos na economia do Brasil. A indústria do alumínio faturou, em 2022, mais de 140 milhões de reais, e gerou mais de 500 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, segundo dados da Associação Brasileira de Alumínio (Abal)
Instituições europeias já se uniram para desenvolver um projeto denominado “AlSiCal”, que possibilita a extração de alumínio, sílica e carbonato de cálcio precipitado, a partir de anortositos. A iniciativa, financiada pela União Europeia, busca reduzir emissões de CO², zerar resíduos sólidos (com aproveitamento de todos os componentes da rocha) e reduzir a dependência dos países por bauxita.
O workshop propicia um ambiente para articulações, e a expectativa é que seja possível avançar em parcerias, como observou o diretor-executivo da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), Roberto Xavier. “As discussões neste workshop são extremamente frutíferas e espero que ideias incentivadoras venham aflorar para que futuros programas de colaboração efetiva, ocorram entre Brasil e a comunidade europeia”.
Redução de impactos ambientais
O SGB também desenvolve um projeto inovador e pioneiro de fomento às práticas de economia circular na mineração, apresentado no workshop pelo pesquisador e coordenador-executivo da DGM, Felipe Tavares. A iniciativa visa contribuir para diminuir desperdícios na produção mineral, reduzir impactos socioambientais e otimizar as atividades, garantindo maior eficiência econômica; pilares da produção mineral sustentável.
“Nós vamos apontar quais resíduos do Brasil têm maior potencial para um uso imediato, em termos de alto valor agregado. Com isso podemos recuperar materiais das pilhas de rejeito que já existem. Ao mesmo tempo, vamos estudar potenciais para recursos minerais de baixo valor agregado, que não são o foco da grande mineração, mas podem desenvolver localmente novas cadeias produtivas e ter impacto positivo na qualidade de vida das pessoas”, contou o pesquisador.
Potencial brasileiro para minerais estratégicos
As pesquisas apresentadas pelo SGB, ao longo do workshop, evidenciam que o Brasil tem potencial para atender a demanda por minerais estratégicos gerados pela transição energética, com destaque para: cobre, grafita, lítio, níquel, fosfato, potássio, urânio e Elementos de Terras Raras.
“Todas as informações que o SGB tem obtido nos últimos anos só comprova a potencialidade do Brasil para produção de minerais críticos”, enfatizou o coordenador-executivo da DGM, Maurício Pavan. O pesquisador acrescentou que, além das ocorrências já identificadas, há potencial para a descoberta de novos depósitos.
O Brasil é também um protagonista no desenvolvimento de pesquisas internacionais. Na apresentação, o chefe da Divisão de Geologia Econômica da DGM, Guilherme Ferreira, falou sobre a participação do SGB no mapeamento de minerais críticos na América Latina. O grupo de especialistas reúne pesquisadores de 12 países. “O projeto dispõe de diversas fases, como a fase de inventário e banco de dados, e fizemos uma série de padronizações para que a base seja a mesma, independentemente do país”, relatou Ferreira.
Segundo o pesquisador, nesse processo o SGB esteve à frente, com outras instituições, como o Serviço Geológico da Argentina: “Participamos do conceito do trabalho, discutimos os depósitos que seriam incluídos, fizemos todo o acompanhamento e validação”.
Evento internacional
O “Workshop América-Latina/Europa: Oportunidades de Cooperação Para uma Indústria de Matérias-Primas Mais Sustentável” é realizado pela Associação Ibero-Americana de Pesquisas Geológicas e Minerárias (ASGMI), com apoio do Serviço Geológico do Brasil (SGB), da PNO Chemistry e do Instituto de Tecnologia de Energia (IFE, na sigla em inglês), da Noruega.
Na programação, palestrantes de mais de 15 instituições do Brasil e de outros países, como Bélgica, Dinamarca, Espanha, Grécia, México e Noruega. As atividades se iniciaram na terça (30) e se encerram nesta quinta-feira (1), com visita à mina Terra Goyana, de bauxita e anorsitos, no município de Barro Alto, em Goiás. Nos próximos dias, as apresentações serão disponibilizadas no site da ASGMI.