2023 ficará nos anais da história mineral brasileira como o do descontrole do garimpo ilegal na Amazônia e o do novo desastre socio, econômico e ambiental causado pelas operações de extração de salgema da Braskem, em Maceió, capital de Alagoas.
Quem viveu esses tempos sabe que o garimpo ilegal ocupou, se expandiu e dominou o que achava ser uma terra de ninguém. Não era. Apesar de não ser, os bandoleiros ameaçaram, expulsaram e assassinaram indígenas; contaminaram solos e rios com o mercúrio usado na separação do ouro e o diesel de suas dragas; abriram caminhos nas florestas com suas escavadeiras e tratores; criaram mundos de crateras terrosas, abandonadas na medida em que a riqueza mineral se exauria. Tudo isso se dá há muitos anos. Mas ganhou força no governo anterior, que cunhou a meta insustentável de “abrir a porteira para passar a boiada”.
O caso da Braskem é tão ou até mais grave. Inclusive pelo silêncio e omissão de governos, políticos e órgãos fiscalizadores nas três esferas de poder. O assunto ganhou finalmente a mídia. Sairá de foco assim que o afundamento dos bairros se consume, submergindo com eles as memórias e vida pregressa da gente humilde que ali habitava.
Ambas são tragédias que corroboram a visão terrivelmente negativa que se tem da mineração. O estrago está feito. Mais uma vez e sob o manto da impunidade. O garimpo ilegal voltará a pousar nas pistas clandestinas da Amazônia. A Braskem continuará a operar na Bahia. Os governos de plantão prometerão leis mais rigorosas que, no fim e ao cabo, apenas servirão para penalizar a mineração responsável. A CPI recém-aberta pelos senadores chamará até Cristo e seus apóstolos a depor e produzirá montanhas de papeis e arquivos digitais, até concluir que culpada não é a Braskem, mas os moradores das áreas afetadas, alertados que não foram dos riscos que corriam.
O Brasil é um país de acasos desde a chegada da primeira caravela portuguesa, que buscava as Índias e deu com o costado no Monte Pascoal. De lá para cá, acumulamos desastres previsíveis imersos no realismo mágico de nosso continente sul-americano tão bem traduzido por Garcia Márquez. Também a mineração – e não só a nossa – teve inúmeros acasos felizes em sua trajetória. Em se tratando da Braskem, não foi acaso e está longe de ser feliz. A empresa, à semelhança dos garimpeiros ilegais, é exemplar em sua irresponsabilidade, inconsequência e certeza de impunidade. A lava tóxica que uma e outros expelem atinge em cheio a mineração. Não por acaso.
Por isso é preciso falar de mineração. Como fizemos o ano todo na In the Mine.
Nossos agradecimentos aos nossos leitores e assinantes, entrevistados, apoiadores, articulistas colaboradores. Um Natal de paz e luz e votos de um 2024 pleno de conquistas e novos horizontes.
Saudações solidárias,
Tébis Oliveira
Editora executiva