As demandas da sociedade brasileira por melhor atendimento de suas necessidades essenciais, incluindo transporte, comunicação, saúde, educação, energia e alimentação, têm crescido exponencialmente. Uma parcela significativa dos insumos necessários para atender a essas crescentes demandas é derivada de metais e minerais extraídos e refinados pelas indústrias da mineração. No entanto, a continuidade desse suprimento de bens minerais depende do êxito da pesquisa mineral no início do ciclo de um projeto de mineração.
Esse estágio inicial, que implica em investimentos elevados e riscos altos, é responsável pela descoberta de novos depósitos econômicos ou pela expansão de recursos de minas já existentes. A promoção de ações que estimulem o desenvolvimento e a gestão da pesquisa mineral no país, nas etapas pré-operacionais da mineração, é uma das missões principais do plano estratégico da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro – ADIMB. É nesse cenário que alguns aspectos do setor mineral do Brasil em 2022 e perspectivas para 2023 serão brevemente analisados neste espaço.
Em 2022, investimentos em pesquisa mineral no Brasil, principalmente por empresas majors e de médio porte e, subordinadamente por juniors, resultaram na entrega de vários projetos minerais importantes em diferentes províncias minerais. Alguns desses projetos, em diferentes estágios de desenvolvimento, incluem os de sulfeto polimetálico do tipo vulcanogênico de Aripuanã (Zn-Pb-Ag-Cu-Au) e Cabaçal (Au-Cu-Ag), ambos em Mato Grosso, e do tipo Broken-Hill (Zn-Pb-Cu-Ag) do grupo Nova Brasilândia, em Rondônia, além da expansão do potencial para depósitos de cobre-ouro na província cuprífera do Vale do Curaçá (BA).
Também foi notório, em 2022, o aporte de investimentos em pesquisas para alavancar o potencial para depósitos de ouro ou Au-Cu (Pb-Zn), muitos interpretados como similares a sistemas pórfiros – epitermais, ao longo das províncias minerais Juruena Teles-Pires (ou Alta Floresta), no norte do Mato Grosso, e Tapajós, no sudoeste do Pará.
No esteio da transição para o uso global de fontes de energia de mais baixo carbono, o Brasil se destacou, em 2022, com resultados positivos em investimentos na expansão de projetos em metais/minerais considerados estratégicos e portadores de futuro. Destacam-se aqui os projetos de lítio e de grafita flake ou veios ao longo do cinturão Araçuaí (Província Mantiqueira), entre o sul da Bahia e o norte de Minas Gerais, além de níquel – cobalto – cobre e elementos do grupo da platina nas Províncias Araguaia e Carajás, no Pará, e no norte do cráton do São Francisco (BA).
Ainda em 2022, houve projetos em estágios avançados de pesquisa de commodities críticas para minimizar a dependência do país em insumos agrícolas, como as de fósforo em carbonatitos no Escudo Sul-Rio Grandense (RS) e de potássio na forma de sais na bacia do Amazonas (AM).
Há a previsão de que a pesquisa destes metais/minerais utilizados no desenvolvimento de altas tecnologias (e.g., carros elétricos, energia eólica e solar) e com aplicações na agricultura tendam a crescer exponencialmente no Brasil nos próximos anos. Nesse cenário é importante garantir um fluxo contínuo de novas oportunidades exploratórias e aproximar a indústria de mineração da necessidade dos consumidores dos novos mercados que se abrem. As muitas transformações e mudanças no consumo e produção de bens para a sociedade devem ser acompanhadas com mudança e adequação pelos produtores. Isso passa necessariamente pela pesquisa mineral.
Apesar da aparente diversidade dos exemplos citados, o setor mineral do Brasil ainda se mantém dependente da produção de um número limitado de commodities minerais, o que não se justifica perante o potencial geológico de seu território. E, em que pesem os avanços da pesquisa mineral em 2022, para os próximos anos o Brasil pode e deve buscar diversificar sua pauta de produção mineral para galgar um patamar de player mundial importante de multi-commodities minerais, a exemplo de Canadá e Austrália.
Essa evolução passa por oferta permanente de novas áreas; facilitação com responsabilidade do acesso aos territórios; desenvolvimento de regulamentações ambientais mais flexíveis na fase inicial dos projetos; e criação de instrumentos de financiamento que atinjam também os médios e pequenos mineradores. Passa, ainda, pela ampliação do conhecimento geológico das províncias minerais em escalas que possam auxiliar decisões estratégicas na pesquisa mineral.