O trabalho de pesquisa realizado pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), que resulta na descoberta de substâncias minerais, é um serviço que contribui não apenas para a implantação de empresas mineradoras, com possibilidade de geração de emprego, renda e maior arrecadação de impostos para os municípios. Os resultados obtidos pelas equipes técnicas agregam conhecimentos de importância nacional e fazem do estado baiano um dos mais analisados geologicamente.
“O Brasil não conhece o Brasil em termos minerais. Até hoje, o serviço geológico nacional só mapeou 27% do território nacional, na escala 1 por 100 mil metros quadrados, na escala que é de 1 por 50 mil, só 3%. Para se ter uma ideia, o Canadá e os Estados Unidos têm mais de 90% de área mapeada”, destaca o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann.
Descobertas Certeiras
Neste segundo semestre de 2022, a CBPM vai apresentar os relatórios dos levantamentos aerogeofísicos que foram finalizados, em maio, na região Norte da Bahia. O trabalho de análise feito para a descoberta de novas substâncias contou com equipamentos modernos, parte de um projeto inovador – para o qual foi necessário alto investimento por parte da CBPM, e utilizou sistemas aerotransportados eletromagnéticos nos quais helicópteros foram usados como plataforma.
Foram cobertos 1.178 quilômetros quadrados, que correspondem a mais de seis mil quilômetros lineares de dados aerogeofísicos. “As análises efetuadas sobre os dados preliminares indicam vários alvos geofísicos promissores para descoberta de novos corpos mineralizados para sulfetos polimetálicos” – Ives Garrido, geólogo e mestre em geofísica, responsável pelos Projetos Geofísicos da CBPM.
Assim como no caso do Norte baiano, a CBPM tem uma programação contínua de pesquisas para outros territórios do estado, por isso necessita de equipamentos de ponta para serem usados pelas equipes qualificadas que possui. Agora em 2022, a CBPM comprou um aparelho cujo investimento foi de mais de um milhão de reais.
“Trata-se de um Gravimetro CG-6, de alta resolução, o que há de mais moderno no mundo, que vai proporcionar a redução de custos com aluguel de equipamentos de terceiros, além de redução no tempo de análises e resultados ainda mais precisos”, explica Garrido.
A CBPM vai completar 50 anos de existência e, ao longo deste tempo, já contribuiu com mais de uma centena de publicações técnicas nas áreas de geologia e geofísica. Graças ao trabalho de pesquisa da CBPM, a Largo Vanádio de Maracás (LVMSA) é única produtora desse bem mineral nas Américas. A mineradora, inclusive, já faz altos investimentos com foco no aproveitamento de subprodutos, que antes seriam descartados, ampliando assim a cadeia produtiva.
Nesse ponto, a LVMSA ainda se alinha à agenda internacional de ações sustentáveis, questões que integram os campos de debates e práticas da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral. A cada ano, são realizados encontros de para trazer ao centro das reflexões as potencialidades da mineração na Bahia, os meios adequados para o desenvolvimento sustentável e a adoção de métodos inovadores. Tais eventos, assim como as publicações editoriais funcionam como forma de fomento para o setor.
Futuro da mineração na Bahia
A importância do estado baiano para a mineração nacional e o trabalho que a CBPM desempenha foram evidenciados durante o II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, realizado, recentemente, no auditório da Federação das Indústrias da Bahia (FIEB). Ao tratar das questões que envolvem a consciência ambiental, como a diminuição das emissões de carbono, o diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann, chamou a atenção para a necessidade de minerais considerados estratégicos como titânio, nióbio, lítio, níquel, manganês, entre outros.
“Bahia é riquíssima em grande parte dessas substâncias, inclusive o futuro da descarbonização passa aqui pela Bahia. Nós precisamos ampliar, reconhecer o papel, a importância da pesquisa mineral e, nesse sentido, quero dar parabéns à Bahia e, particularmente, à CBPM. A Bahia hoje é a campeã nacional em pesquisa mineral, um em cada três reais aplicados em pesquisa é aqui na Bahia. A Bahia é o terceiro lugar na mineração hoje, só perdendo para o Pará e Minas Gerais, mas eles não perdem por esperar”, salientou Jungmann.
Aproveitamento de resíduos
O II Fórum de Inovação e Sustentabilidade na Mineração foi promovido pela CBPM para geração de conhecimento e visões estratégicas. Potencialidades do setor minerário como provedor de insumos para agricultura, a consolidação do desenvolvimento sustentável do segmento e apontamento da necessidade de uma estrutura logística eficiente foram alguns dos assuntos que marcaram encontro.
“O que são considerados resíduos hoje podem se transformar em matérias-primas para o manejo agrícola. Então, essa é uma forma de se mitigar os impactos que a mineração promove. Por exemplo, no caso da emissão de carbono, se você tiver materiais de mineração que possam ser usados no solo é possível sequenciar a cadeia. Então, se você pensar na cadeia produtiva, de forma integrada, haverá benefícios em vários aspectos: melhorando o solo agrícola, reduzindo os gases do efeito estufa e criando cadeias regionais com impacto social positivo também”, disse o pesquisador da Embrapa Cerrados, o doutor em geologia Eder Martins.
Deficiência na infraestrutura
Quando se pensa em ampliação das cadeias produtivas já existentes, criação de novos negócios, entre outros, é impossível não tratar de logística. Durante o encontro promovido pela CBPM, o coordenador de Projetos do SENAI CIMATEC (Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia), Walter Pinheiro, chamou a atenção para a inexistência de ferrovias e de trens para o escoamento das produções. Ele destacou que é preciso planejamento e investimento com foco na melhoria de vida das pessoas e não dos negócios apenas.
“O conceito que estamos trabalhando é territorializar essas ações, mas temos carência de estrutura de logística entre o centro de produção e porto, e entre o centro de produção e a indústria, por isso esse debate é tão importante”, destaca Walter Pinheiro, que também falou a respeito das fontes renováveis de energia.
Sustentabilidade viabiliza investimento
Nesse quesito, o diretor do WWI-Worldwatch Institute, Eduardo Atayde, que foi um dos palestrantes convidados, trouxe a reflexão sobre o ESG (Ambiental, Social e Governança) como realidade condicional nos processos de investimento internacional e sobre a necessidade dos gestores dos setores públicos e privados compreenderem o que de fato significam as metodologias do ESG. “O ESG está nas bolsas de valores. Ninguém coloca um tostão em lugar nenhum do mundo mais, se não tiver uma visão ESG apropriada e definitivamente plotada, porque as agências de risco dão notas aos capitais”, alerta Atayde.
Entre os que compareceram ao evento, estavam executivos do setor minerário e profissionais das áreas técnicas que integram o segmento. Segundo o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, Antonio Carlos Tramm, o objetivo de realizar o II Fórum foi discutir e suscitar provocações sobre o que fazer com os resíduos da mineração. “Porque é de extrema importância que a gente pense em ampliar a cadeia produtiva, com o aproveitamento dos materiais que têm grande potencial ao invés da manutenção de descarte.
Recentemente, o governo do Estado, através da Secretaria de Planejamento, tomou a decisão de criar um grupo para analisar o aproveitamento dos resíduos, ou seja, uma decisão que pensa de forma macro a produtividade mineral. A produção na mineração não deve terminar quando se extrai o ouro, quando se vende o ouro ou o minério de ferro, por exemplo. A empresa Largo Vanádio de Maracás já tem projetos para utilização de subprodutos do vanádio e é um exemplo a ser seguido nesse quesito”, observa Tramm.