No distrito de Porto Trombetas, Oriximiná (PA), amostras de mais de 2 mil plantas de todas as espécies da Floresta Nacional (Flona) de Saracá-Taquera resgatadas e já reintroduzidas são mantidas no Epifitário da Mineração Rio do Norte (MRN). Anualmente, mais de 20 mil epífitas são resgatadas e reintroduzidas à natureza por meio do Programa de Resgate de Flora, que também já tem catalogadas mais de 130 espécies de orquídeas, 25 espécies de bromélias e 75 de aráceas – família botânica composta por espécies como antúrios e copos-de-leite.
Desde 2008, o pesquisador João Batista da Silva, 78 anos, coordena o programa de resgate e reintrodução de epífitas na Flona de Saracá-Taquera, iniciativa da MRN que tem sido essencial para a conservação das epífitas e hemiepífitas nesta unidade de conservação.
As epífitas são plantas que vivem nas árvores e têm elas como suporte para sobreviver, podendo crescer do tronco até a copa. Entre os exemplos mais conhecidos estão espécies como orquídeas e bromélias. Quando germina na árvore, vive a fase como epífita. Quando começa a enramar, florescer, frutificar e soltar as sementes e raízes, então se transforma em hemiepífita.
“São plantas muito importantes porque têm seu próprio mecanismo de sobrevivência. São esponjosas e, por isso, captam umidade e nutrientes das árvores onde estão para sobreviver. São boas indicadoras de tempo e umidade. Também são uma casa para muitos animais pequenos como insetos que moram em epífitas, que viabilizam sobrevivência para eles. Desta forma, sinalizam um bom desenvolvimento do reflorestamento e têm importância ornamental”, explica João Batista.
Por meio do Programa de Resgate de Flora são desenvolvidas as seguintes atividades: reprodução de espécies resgatadas, montagem de coleção de referência e reintrodução das espécies resgatadas e propagadas no Epifitário nas áreas em recuperação. Um engenheiro florestal, um biólogo e cinco auxiliares de campo compõem a equipe de João Batista, que desenvolve o trabalho de preservação de epífitas e hemiepífitas coletadas, realizado antes e após a supressão da vegetação para a lavra mineral.
Neste ano de 2021, foram descritas três espécies novas: Encyclia aliceae (publicada na Revista Biota Amazônia, v. 11, n. 01, p. 102-104, 2021), Catasetum saracataquerense (publicada na Revista Richardiana, v. 05, p. 206-2016, 2021) e Catasetum taquerense (será publicada na Revista Richardiana, mês de setembro de 2021).
“Além disso, tivemos a participação da MRN na publicação do Guia de Campo ‘Passiflora of the Brazilian Amazon’, publicado no Field Museum (2020/2021), sobre a diversidade de espécies de maracujá na Amazônia brasileira, sendo que 14 delas ocorrem na Flona de Saracá-Taquera. Uma delas é inédita para a ciência, a Passiflora longifilamentosa”, comenta o pesquisador.
Reflorestamento
As atividades de resgate de João Batista e sua equipe ocorrem antes e após a etapa de supressão vegetal. Antes, a equipe entra na área para resgatar todas as epífitas que estão numa altura correta para a coleta. “Após a supressão, vamos árvore por árvore, coletando as epífitas que encontramos do tronco até a copa”, declara. Outra frente é contribuir com as ações de reflorestamento. “A maior importância em nosso trabalho também é repor à natureza parte do que foi retirada. Tratamos destas plantas no Epifitário: lá elas são identificadas, contadas, limpas e levadas de volta para serem repostas através do reflorestamento”, assinala João Batista.
Marco Antonio Fernandez, gerente de Licenciamento e Controles Ambientais da MRN, destaca a biodiversidade da Flona e como as epífitas mantêm-se reintegradas a este ambiente após os processos de reflorestamento.
“Na Flona de Saracá-Taquera é possível percorrer caminhos desde a intimidadora robustez até a infinidade de minúsculos detalhes. É uma riqueza inimaginável, deslumbrante e empolgante. As epífitas integram esse universo único e oferecem, em cada fragmento seu, uma história de delicada e complexa integração com as demais plantas e animais da floresta. É muito satisfatório podermos oferecer a estrutura para o desenvolvimento longevo dessa rica atividade de conhecimento, cuidados e reintegração das epífitas nos processos de reflorestamento das áreas mineradas”.
Monitoramento
O pesquisador João Batista assinala que a experiência tem sido gratificante pela possibilidade de compartilhar seu amplo conhecimento e de vivenciar uma dinâmica de campo diferenciada de sua trajetória anterior, em que o foco era fazer inventários amplos e gerais sobre a flora em vários estados brasileiros. Nos trabalhos na Flona de Saracá-Taquera, além de levantamentos e planos de manejo, ele e sua equipe têm como foco acompanhar todas as etapas de desenvolvimento de uma mesma espécie por até 11 anos.
“A mineração me deu uma experiência que eu ainda não tinha conseguido em nenhum outro lugar: passar um ano, 10 e até 11 anos observando a mesma planta: descobrindo as suas fases: floração, crescimento, dispersão e frutificação”, conclui o pesquisador.