Sempre gostei muito de futebol, apesar de nunca ter jogado bem, o que é uma frustração. Ao assistir jogos, observava que alguns jogadores, mesmo não sendo tecnicamente superiores a outros, conseguiam uma performance melhor em uma partida, e não entendia o porquê.
Intuitivamente, percebia que aqueles jogadores que entravam extremamente relaxados acabavam não indo bem, aqueles mesmos cujos depoimentos antes dos jogos era o de que tudo estava muito bem, tentariam fazer o melhor possível etc. Não se percebia tensão em seus olhares. Já aqueles que revelavam, mesmo sem dizer, estar mais nervosos, com o famoso “frio na barriga”, esses tendiam a ter participações melhores. Claro que essa sensação não poderia ser exagerada, a ponto de impedir o atleta de entrar no campo…
Ao pesquisar o assunto, deparei-me com dois pesquisadores que, em 1908 (!), publicaram um estudo com o nome de Lei de Yerkes Dodson (os nomes dos dois). Essa lei afirma que a intensidade da motivação é muito boa para o bom desempenho, mas até certo ponto…
A partir daí, começa a prejudicá-lo. Se imaginarmos um gráfico onde o eixo x é a intensidade da motivação e o y a performance obtida, a curva seria a de um U invertido.
Foi feito um estudo com macacos, onde o macaco era preso em uma jaula, na qual havia uma haste de metal. Fora da jaula, havia um cacho de bananas e outra haste de metal, maior do que a existente dentro da jaula.
Pois bem, quando o macaco era colocado ali dentro estando há poucas horas sem comer, ele simplesmente não fazia nada, pois não
tinha motivação suficiente. Quando colocavam o mesmo macaco ali, estando já há umas boas horas da última refeição, ele via o cacho de bananas fora da jaula e o tentava alcançar com a haste de metal que tinha ali. Ao ver que o tamanho da haste não era suficiente, ele então puxava a haste maior com a haste menor e, sim, agora de posse da haste maior, puxava o cacho de bananas e o comia!
Entretanto, o mesmo macaco, colocado ali com muita fome, tentava puxar o cacho com as mãos, e nada conseguia… uma clara demonstração da teoria.
Recentemente, em 2010, a Universidade de Lau sanne, na Suíça, demonstrou um resultado similar com ratos de laboratório que precisavam achar a saída em labirintos aquáticos, em três temperaturas diferentes. Aqueles que estavam em uma temperatura intermediária saíram-se melhores que os que estavam em temperatura mais fria ou mais confortável, os primeiros porque a tensão era demasiada para sair e os segundos porque a temperatura estava confortável demais para a busca de uma solução mais rápida.
O grande ator Paulo Autran disse, em uma de suas entrevistas, que ainda se sentia ansioso antes de cada noite de espetáculo. Isso o fazia, com certeza, entrar “ligado” no palco. Devemos usar essa ansiedade a nosso favor. Para mim, é como se, ao disparar uma flecha, você pode ter basicamente três opções: se o arco estiver frouxo, a flecha simplesmente cairá logo à sua frente, bem antes do alvo. Se a tensão estiver na medida certa, você provavelmente acertará o alvo mas, se a corda estiver excessivamente tensionada, a flecha ultrapassará o alvo ou o arco simplesmente não resistirá à tensão…
Precisamos, como profissionais, encontrar essa dose exata de tensão, que nos faça ser mais produtivos sem sofrimento excessivo.
Forte abraço!
* VLADMIR STANCATI é engenheiro mecânico formado pela FEI, especializado em Gestão da Qualidade e Controle Estatístico de Processos pela Escola Politécnica da USP, pósgraduado em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela Fundação Dom Cabral. É Diretor de Desenvolvimento Humano e Organizacional (RH, Jurídico, Segurança, Infra-Estrutura e Saúde) da Festo Brasil, empresa líder na área de automação, de origem alemã, Diretor da ONG Junior Achievement, de origem norte-americana e voltada ao empreendedorismo e professor da FGV-SP e da Fundação Dom Cabral.
Excelente texto para tempos de pandemia! Parabéns Vlad