No início da noite de 30 de junho, uma extensa rede de contatos da área de mineração, incluindo gestores, especialistas, consultores e jornalistas, foi surpreendida com o recebimento de uma carta de Alexandre Vidigal de Oliveira (veja abaixo), comunicando seu desligamento, por motivos pessoais, do cargo de Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME).
Era uma quarta-feira, mas segundo uma fonte ouvida pela revista In the Mine sob condição de anonimato, as gavetas do então secretário foram esvaziadas já na segunda-feira, dia 28 de junho. Em 21 de junho, a agenda de Vidigal marcava o início de um período de férias. O último grande evento em que esteve presente, antes dessa data, foi a inauguração do Projeto Serrote, da Mineração Vale Verde, empresa do fundo Appian Capital Advisory, em Craíbas, Alagoas.
Juiz federal por quase 28 anos, o brasiliense formado em Direito pela Universidade Carlos III de Madri, onde também cursou seu mestrado e doutorado,foi uma escolha no mínimo estranha para responder pelo braço do MME no setor mineral, em 21 de janeiro de 2019.A maior crítica à sua nomeação era o completo desconhecimento das especificidades da mineração brasileira e, mais ainda, sua falta de experiência como gestor e administrador tanto de empresas públicas quanto privadas.
Desenvoltura em fóruns de discussão no setor
No entanto, Vidigal conseguiu reverter, em grande parte, essa primeira impressão ao atuar com desenvoltura em vários fóruns de discussão mineral. Uma de suas grandes bandeiras foi o lançamento, em setembro de 2020, do Programa Mineração e Desenvolvimento (PMD). O plano define a agenda do Governo Federal para a mineração e consiste de 10 áreas temáticas e de 110 metas, a serem cumpridas até 2023, desde a pesquisa mineral, passando por gargalos de logística e infraestrutura, conceitos de sustentabilidade e chegando a questões sobre a imagem e reputação do setor, visando o crescimento quantitativo e qualitativo do setor.
“Não é apenas um compromisso programático ou pragmático deste governo, mas um conjunto efetivo de metas a ser implementado, cujo cumprimento certamente será objeto de prestação de contas, junto aos órgãos de fiscalização”, explicou o então secretário em live realizada pela CBPM – Cia.Baiana de Pesquisa Mineral, em outubro de 2020. Passado um dia da demissão de Vidigal, o portal do MME não noticiou a vacância do cargo nem sinalizou a nomeação do novo titular. O órgão que define a política mineral brasileira está acéfalo.
A seguir a íntegra da carta de Alexandre Vidigal, comunicando sua demissão do cargo:
“Prezados Dirigentes do setor mineral,
Após quase 40 anos no setor público, estou me desligando do MME, encerrando hoje mais um ciclo da minha trajetória profissional. Foi uma decisão tomada em março, compartilhada à época aqui no MME, e que se materializa na presente data. Deixo os relevantes desafios desses últimos dois anos e meio na SGM com a segura convicção do dever cumprido, pela integral dedicação e esforço, por ter trabalhado exclusivamente com foco no alcance do bem comum, no interesse do país e do esmero no trato da coisa pública. Saio também com um sentimento de plena satisfação pela enriquecedora experiência profissional e pessoal que o setor da mineração me proporcionou.
Pela frente, novos desafios em projetos que eu já tinha traçado e definido desde 2018 – adiados para assumir a SGM -,e para os quais me encontro com plena disposição e muito entusiasmo.
E a todos, como vocês, que me deram a honra de compartilhar o convívio nestes últimos anos, o meu reconhecimento, gratidão e a grande satisfação em tê-los conhecido.
Aproveito para parabenizá-los pelo importante trabalho que desempenham para o desenvolvimento do nosso país”.
Cordial abraço,
Alexandre Vidigal de Oliveira
Foto: Alexandre Vidigal de Oliveira ( Live CBPM/In the Mine)