TRATADAS COMO JUNIORES

TRATADAS COMO JUNIORES

Por Ricardo Gonçalves,

Vista do processo de moagem e de beneficiamento do projeto Maracás, da Largo Resources
Vista do processo de moagem e de beneficiamento do projeto Maracás, da Largo Resources

A mineração atravessa um momento bastante delicado no Brasil. Com a orientação do Governo referente à paralisação das outorgas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a expectativa pelo Código de Mineração gera apreensão nas mineradoras. O Projeto de Lei n° 5807 pretende transformar o DNPM na Agência Nacional de Mineração (ANM) e criar o Conselho Nacional de Política Mineral, dentre outras novidades. A proposta gerou desconfiança de especialistas do setor. Existe até mesmo a possibilidade de se extinguir as junior companies do Brasil.

São companhias com capital aberto, que recebem investimentos dos financiadores com o intuito de pesquisar, desenvolver e até mesmo explorar jazidas minerais. Seu nome, no entanto, não representa mais o papel fundamental desempenhado. “De juniores, elas não têm nada”, disse certa vez o geólogo Pedro Jacobi. Estima-se que apenas em 2012 as junior companies tenham investido nacionalmente mais de US$ 700 milhões apenas em pesquisas minerais, enquanto o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) investiu US$ 12 milhões. Apesar da desconfiança do Governo em torno delas, são as maiores responsáveis pelas pesquisas minerais no território brasileiro. Em muitos casos, após todo o desenvolvimento, grandes mineradoras compram as minas delas. No entanto, suas atuações estão ficando cada vez mais complicadas no País.

Ao todo, a América do Sul possui listadas 189 empresas ligadas à mineração na Bolsa de Valores de Toronto (TSX-V), enquanto apenas os Estados Unidos e o México possuem respectivamente 235 e 144. E a tendência é a diminuição de sua presença no Brasil. Outro problema reside no fato de que gigantes, como a Vale, a Rio Tinto e a Anglo American, já não fazem muitas pesquisas, concentrando seus esforços nos atuais projetos. Dessa forma, haveria uma drástica queda de pesquisas minerais nacionalmente.

Confira abaixo o panorama de algumas das junior companies presentes no País:

foto amarillo gold junior compan 14 projAmarillo Gold
A empresa busca exploração de ouro e possui quatro projetos no Brasil: Mara Rosa, Santo Antônio e Ourolândia, em Goiás, e Lavras do Sul, no Rio Grande do Sul. Para o ano de 2014, grande parte dos esforços da empresa se concentrará no projeto Mara Rosa, que teve a conclusão do estudo de pré-viabilidade financeira, com 1,17 milhão de onças de ouro a 1,75 g/t, e mais 156 mil onças com 1,34 g/t. Lavras do Sul, localizado no extremo sul do País, é o projeto mais avançado, já em fase de exploração. Até o momento, das 19 perspectivas da Amarillo Gold, cinco delas foram testadas na região. Quatro delas apresentaram quantidades significativas de ouro, incluindo Butia, que possui mais de 500 mil onças de ouro.

Amerix Precious Metals
A situação atual da Amerix Precious Metals é de expectativa e certa indefinição. Atuando na mina de ouro Limão, com uma propriedade de 18 mil hectares no Pará, a empresa não descarta a possibilidade de formalizar uma joint-venture, uma fusão ou até mesmo a venda da companhia. Em 2012 e 2013, realizou intensas pesquisas geoquímicas, que mostraram um alto grau de ouro na região. No fim de dezembro do ano passado, a empresa comunicou aos acionistas que eles poderiam aprovar a consolidação das ações ordinárias emitidas. O Conselho de Administração recomenda que os acionistas aprovem, a fim de aumentar a flexibilidade de negócios futuros.

Aura Minerals
O primeiro semestre da Aura Minerals foi bastante complicado. Houve uma queda das ações de 62%, após consecutivos prejuízos. Em setembro de 2013, a companhia converteu seus interesses de exploração nas propriedades Cumaru e Inajá, no Pará, em royalties. Apesar dos problemas financeiros, a subsidiária Mineração Vale Verde desenvolve o maior projeto de mineração de Alagoas, o Serrote da Laje (antes chamado de Arapiraca), de cobre e ouro. O início da operação da mina a céu aberto está previsto para 2016 ou 2017. Já foram investidos R$ 130 milhões e estão previstos mais R$ 710 milhões. A empresa opera ainda as minas São Francisco e São Vicente, ambas no Mato Grosso.

foto belo sun junior compan 14 projBelo Sun Mining
Um juiz federal mandou suspender a licença ambiental do projeto Volta Grande, próximo ao Rio Xingu, no Pará, em novembro do ano passado, afirmando que feria os direitos indígenas e a legislação ambiental. A medida pegou de surpresa a Belo Sun, que conseguiu a liberação junto ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (COEMA) poucos dias depois, além da licença prévia. Para este ano, a companhia receberá investimentos para a fase de construção da maior mineração de ouro brasileira. Além de Volta Grande, grande foco da empresa, ela possui ainda os projetos Patrocínio, no Pará, e Rainbow, em Goiás.

foto brazil resources junior compan 14 projBrazil Resources
As pesquisas realizadas no projeto Cachoeira, no Maranhão, indicam a presença de 787 mil onças de ouro com 1,40 g/t e outras 563,2 mil onças com 1,12 g/t. Houve uma mudança no fim do ano passado em relação ao contrato firmado com a Luna Gold sobre a compra das ações, com o pagamento de US$ 300 mil podendo ser feito em 24 meses e não mais em um ano. Na contramão de um mercado em crise, a Brazil Resources traz como grandes novidades para o ano a aquisição dos projetos de ouro São Jorge, Boa Vista e Surubim. Em meados de janeiro, a empresa já apresentou estudos iniciais, destacando-se a mina São Jorge, com a presença de 715 mil onças de ouro com 1,54 g/t e mais 1,03 milhão de onças com 1,14 g/t.

foto cancana resources junior compan 14 projCancana Resources
A subsidiária da Cancana Resources, M.L.B. de Nogueira Mineração, é proprietária da mina de minério de manganês Valdirão, em Espigão D’Oeste (RO). No fim do ano passado, a empresa começou a operação comercial da mina, com as escavações, pouco tempo depois da obtenção das licenças prévia e de instalação. A evolução do projeto é esperada para este ano. A companhia também firmou, em dezembro, um acordo com a Ferrometals para a aquisição da Rio Madeira, recebendo financiamentos de até US$ 5,9 milhões, conforme proposto pela Ferrometals.

Carpathian Gold
No começo de 2014, a Carpathian Gold suspendeu temporariamente a produção de seu projeto de ouro Riacho dos Machados (RDM), em Minas Gerais. A propriedade é 100% da subsidiária Mineração Riacho dos Machados. Em dezembro, houve a suspensão da Autorização Provisória de Operação, muito por conta das fortes chuvas no local. A mina a céu aberto RDM possui 830 mil onças de ouro, com 1,24 g/t.

foto centaurus metals junior compan 14 projCentaurus Metals
Com três projetos no Brasil, o Jambreiro, de minério de ferro, se localiza em Minas Gerais e é o líder e foco da Centaurus Metals para 2014. Durante a fase inicial, a operação deve começar com a produção de 1 Mtpa, mas tem capacidade para chegar até a 3 Mtpa. Neste ano, a empresa divulgou um relatório mostrando que a mina tem 35,4 Mt garantidas e mais 13,1 prováveis. A porcentagem média de ferro para a reserva total é de 28,1%. A implantação do complexo minerário sofreu uma redução de US$ 75 milhões, ou seja, de 61% do Capex. As obras do Jambreiro estão em andamento e a produção deve ser iniciada em 2015.

Colossus Minerals
O Conselho de Administração da Colossus Minerals aprovou a proposta dos credores para reestruturar a empresa. Ela tinha até 31 de dezembro para quitar suas dívidas relacionadas aos juros sobre notas conversíveis, antes do fechamento de negócios em 10 de janeiro deste ano, mas não conseguiu realizar os pagamentos. Uma “declaração de intenção” permitirá a empresa a seguir em frente com o processo de venda e readequação, sob supervisão judicial. Por enquanto, ela recebe recursos provindos do financiamento de curto prazo de detentores de títulos e da Sandstorm Gold. J. Alberto Farias deixou o cargo do Conselho de Administração, fazendo de John Frostiak o único diretor da companhia. A situação atual da Colossus é delicada.

Ecometals
A Ecometals aguarda desde o fim de outubro pela licença ambiental para o embarque de seu minério de manganês pela Serra do Navio (AP), que pode ser concedida pelo Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial (Imap). Há cerca de 3,4 milhões de toneladas (Mt) de manganês estocadas ali.

foto eldorado gold junior compan 14

Eldorado Gold
Para 2014, a Eldorado Gold tem como meta no Brasil desenvolver o projeto Tocantizinho, no Pará. Durante o primeiro trimestre, será concluído um plano de metas. O investimento será de US$ 10 milhões na planta. No ano passado, foi gasto um montante de US$ 4 milhões. A empresa apresentou um aumento da produção de 10% no ano passado em relação a 2012. A empresa produziu 721,2 mil onças de ouro, com um custo de US$ 494 por onça.

Jaguar Mining
Desde dezembro de 2013, a Jaguar Mining tem atuado sob proteção do Ato de Disposição dos Credores de Empresas (CCAA). Em janeiro, a empresa conseguiu estender o processo até 28 de fevereiro, em ordem concedida pelo Superior Tribunal de Justiça de Ontário, no Canadá. Isso dá mais tempo à Jaguar para reestruturar o capital e a dívida. Por conta disso, a empresa deixará de ser listada na Bolsa de Valores de Toronto (TSX) após o fechamento em 10 de fevereiro.

Karmin Exploration
Dona de dois projetos no Brasil, a Karmin volta seu foco para o projeto de zinco Aripuanã, no Matro Grosso. A empresa é dona de 30% da propriedade, enquanto a Votorantim Metais detém os outros 70%. Ao longo deste ano, será desenvolvido o estudo de viabilidade do projeto.

Lara Exploration
A Lara Exploration apresentou em meados de janeiro os resultados de seu projeto de grafite Canindé, no Ceará. Foram identificados flocos de grafite com alto teor, incluindo a abertura de 11 locais. Nos furos, foi encontrada inclusive um intervalo de 4 m com 17,08% de carbono grafítico, na seção de Pedra Preta, um dos 11 locais prospectados.
foto largo resourc junior compan 14

Largo Resources
Para o primeiro trimestre deste ano, a produção em Maracás, na Bahia, deve ser iniciada. O projeto de Vanádio é um dos três conduzidos pela Largo Resources no Brasil. A empresa firmou um contrato com a Glencore International por 100% do material de vanádio, durante seis anos. Com um investimento total de R$ 555 milhões, serão produzidas inicialmente 5,1 mil toneladas de pentóxido de vanádio por ano.

Luna Gold
A Luna Gold suspendeu temporariamente as operações na mina de ouro Aurizona, no Maranhão. O acesso à mina está limitado, devido aos protestos dos maranhenses por conta dos graves problemas de segurança e estrutura no estado. Por conta disso e para garantir a segurança de seus funcionários, a Luna optou por suspender o trabalho até que a situação se resolva. Como boa notícia, a empresa apresentou os resultados da produção de 2013 de Aurizona. O quarto trimestre do ano passado fechou com 22,18 mil onças de ouro, fechando o ano com um recorde de 79,2 mil onças.

MbAC Fertilizantes
Como novidade para o ano, Cristiano Melcher assumirá a presidência da MbAC Fertilizantes a partir de 1 de fevereiro. Antenor Silva, atual diretor-presidente, permanecerá no Conselho de Administração. Melcher foi CEO da Fosbrasil nos últimos três anos. A expectativa da companhia é de que as operações em seu projeto Itafós atinjam a capacidade total, com a produção anual de 500 mil toneladas de Superfosfato Simples na unidade de Arraias.

foto serabi gold junior compan 14Serabi Gold
No fim de dezembro, a Serabi Gold anunciou o progresso do comissionamento de sua planta inicial Palito, localizada no Pará. Aproximadamente 800 t com 5 g/t de ouro de minério bruto foram trituradas, chegando até a um tamanho de menos de 8 mm. A primeira produção de ouro deve acontecer ainda no começo de 2014. A empresa acredita que ainda no primeiro trimestre, a produção deve atingir um bom nível de ramp-up.

foto tristar gold junior compan 14TriStar Gold
A TriStar Gold revelou no começo de janeiro deste ano o plano de aumentar os investimentos no processo de sondagem do projeto de ouro Castelo de Sonhos, no Pará, para US$ 3 milhões. O programa será desenvolvido ao longo de 2014 e dará uma estimativa dos recursos existentes no local.

Verde Potash
Apesar de anunciar no fim do ano passado uma inovadora estratégia para a produção de potássio no Brasil, com uma planta com capacidade de produção de cerca de 1 mt por dia de termopotássio, a Verde Potash está reduzindo custos, com o corte de funcionários, despesas de viagens e consultoria. Ainda assim, a empresa espera finalizar o estudo de pré-viabilidade para as fases 1 e 2 ainda no primeiro trimestre deste ano.

Yamana Gold
O ano começou com uma boa notícia para a Yamana Gold. O ministro de Minas e Energia Edison Lobão assinou a autorização da outorga definitiva para o projeto de ouro da empresa em Santa Luz, na Bahia. Ali, a Yamana espera ter uma produção anual de 100 mil onças de ouro, com uma vida útil de 10 anos da mina. Há reservas minerais comprovadas e prováveis de 1,5 milhão de onças.

Os exemplos acima apenas comprovam que, apesar do delicado momento vivido pelo setor mineral, as junior companies já são fundamentais para a mineração brasileira. Porém, ainda existe uma falta de flexibilidade por parte do Governo para atrair um número ainda maior dessas companhias. A falta de hábito do brasileiro com empresas com capital aberto, que dependem dos financiadores para realizar seus projetos, causa certo receio.

No entanto, há inúmeros casos bem-sucedidos relacionados às junior companies. A Yamana Gold tornou-se uma das principais companhias do setor, mundialmente. Na África do Sul, a longa crise no segmento afastou grandes mineradoras e acabou atraindo os investidores para a mineração do carvão, agora dominada por pequenas empresas locais.

Historicamente, o Brasil esteve sempre a mercê de grandes empresas. No entanto, a pesquisa não pode ficar concentrada na mão de poucas companhias, ainda mais num país com tamanha grandeza territorial. A maior prova disso é a eficiência de dois gigantes da mineração, Austrália e Canadá, que apostam alto nessas empresas. É importante ressaltar que a atividade mineral responde por 4% do PIB brasileiro e representa cerca de 25% das exportações do País.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.