DESMONTE SUBTERRÂNEO TELEGUIADO

DESMONTE SUBTERRÂNEO TELEGUIADO

Por Tébis Oliveira (*)

angloDesde novembro de 2015, três conjuntos de rompedores acoplados a braços hidráulicos realizam o desmonte secundário de matacos, através de uma tele operação remotamente controlada, na Mina Cuiabá, em Sabará (MG), da AngloGold Ashanti. Os equipamentos – dois modelos Sandvik XM750HD com martelo E64 e um Mcquaid CM7500 com martelo Montabert V1200 – estão a cerca de 840 m de profundidade. O projeto é pioneiro no Brasil não só pela tele operação, como por sua realização em uma mina subterrânea.

Foram necessários três anos, desde a fase conceitual, passando por estudos de viabilidade e detalhamento para que o projeto chegasse à etapa de implantação, em 2014, e de montagem e comissionamento na segunda metade de 2015, explica Antônio Marcos Mendonça de Oliveira, chefe de Lavra e Produção da Mina Cuiabá. O principal desafio do processo foi a montagem da estrutura dos rompedores hidráulicos.

“Era algo desconhecido e inovador no Brasil porque nenhuma empresa possui essa tecnologia em suas operações, principalmente por se tratar de mina subterrânea. Foi necessária a reestruturação de toda a infraestrutura e das áreas operacionais e, com recursos internos, realizamos toda a montagem da estrutura operacional”, detalha Oliveira. Para ele, “a iniciativa é um grande marco e o primeiro passo para novos processos de automação remota, que pode se estender para outros equipamentos e, no caso de Cuiabá, para outros níveis da mina”. A AngloGold Ashanti investiu cerca de R$ 700 mil no empreendimento.

Desenvolvimento

A equipe interna da Mina Cuiabá não apenas reestruturou como ampliou a rede de fibra óptica já existente – num teste piloto, os conjuntos operavam a cerca de 10 m da superfície -, para que ela atendesse aos requisitos da aplicação proposta. Nesse trabalho, foram consideradas, principalmente, características como latência (tempo que um pacote de dados leva para ir de um a outro ponto da rede), capacidade de transmissão e confiabilidade, diz Oliveira.  Foram utilizados sistemas de gestão de rede para o monitoramento da qualidade de transmissão, sistemas especiais de câmera e uma plataforma de automação da Rockwell.

A primeira fase de automação dos equipamentos ocorreu no subsolo com a implementação da infraestrutura de fibra ótica e a instrumentação dos movimentos e funcionamento dos rompedores hidráulicos. Na segunda etapa, na superfície, a sala de comando foi preparada com instrumentação adequada e TVs para auxiliarem na operação. Houve, ainda, uma última fase de monitoramento, ajuste dos equipamentos e seus movimentos e adaptação da equipe até que o sistema entrasse em operação plena, no início de novembro de 2015.

 Após um treinamento de 45 dias, cinco operadores foram qualificados a manejar os controles da sala de comando, uma instalação high-tech que lembra uma estação espacial. “O operador trabalha em um posto de comando 100% ergonômico e confortável. Além disso, a padronização do rompedor evita erros de operação ou o bloqueio do equipamento por sensores de movimento”, diz Deivid Guimarães, técnico de telecomunicações da AngloGold Ashanti. Para a mineradora, os ganhos foram de produtividade – se for o caso, o rompedor pode trabalhar 24 h por dia -, de custos com transporte ao eliminar o deslocamento dos operadores para o subsolo, de segurança e de eficiência, já que um único operador pode controlar os três rompedores simultaneamente.

Pioneiros

Os modelos Sandvik – braço XM750HD e martelo hidráulico E64 – são os primeiros conjuntos de braço/rompedor da marca a serem controlados remotamente via tele operação no Brasil. Bruno Almeida, engenheiro de Aplicação e Vendas da fabricante, diz que o primeiro conjunto Sandvik no mundo a ser operado dessa forma está localizado em Outokumpu, na Finlândia, a cerca de 1,5 km de distância da sala de comando.

Segundo Almeida, para viabilizar a operação foi necessário utilizar uma base transmissora (ou controle remoto), uma base receptora, duas bases intermediárias para conexão de cabos de fibra ótica multimodo de 820 mm, câmeras de vídeo e um switch (seletor). Além disso, para incremento do conforto e segurança do operador, foi instalada uma cadeira com comandos remotos.

Um supervisor técnico da Sandvik Mining realizou a entrega técnica das máquinas, incluindo sua verificação, o registro da garantia, a revisão dos documentos técnicos e de venda, instruções de segurança e treinamentos de operação e manutenção.
Para Almeida, a tele operação não apresenta maiores dificuldades em relação a uma operação convencional, com exceção de peculiaridades inerentes ao processo. Uma delas é que, na ocorrência de alguma falha, mesmo com os sensores indicando sua causa, a correção deve incluir o tempo de deslocamento do técnico da sala de comando até o equipamento. Outra é que, se o rompedor for bloqueado por algum material fora do alcance da câmera, o problema também não poderá ser tratado remotamente. “Ainda assim, os riscos são mínimos diante do que a operação remota representa em termos de inovação para a segurança e produtividade da mina”, afirma o engenheiro.

Didier Benedito, gerente para a América Latina da linha de rompedores hidráulicos Montabert, do grupo Joy Global, lembra que o V1200 empregado na Mina Cuiabá é um dos modelos de maior produtividade e durabilidade em aplicações de mineração, construção e demolição. O equipamento possui duas velocidades, pode ser acoplado a uma escavadeira ou a qualquer braço hidráulico – no caso, o Mcquaid CM7500 – e conta com um sistema de lubrificação automática da ponteira. O equipamento também é o primeiro a ser empregado em operações remotas no Brasil.

 (*) Tébis Oliveira  é editora de Novos Projetos e Sustentabilidade da revista In The Mine

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